Com a inesperada sacada, o cravo que feria saiu ferido e a sorteada foi a rosa, que precisa dar um jeito da turma não ser despedaçada. Bem me quer, mal me quer. O que fazer, para que lado ir, como sair da encrenca? Bem me quer, mal me quer.
Bem me quer, vou mandar tudo às favas. Quem deu a esse atrevido o direito de contestar uma decisão dos intérpretes das leis? Vamos pras cabeças, vamos dizer que o decreto dele não vale nada. Desculpa se inventa, pode ser o regimento interno ou fato dele usar Internet, qualquer coisa serve.
Mal me quer, quem lhe deu o direito foi o povo. Ele pode conceder esses perdões como os outros presidentes. Nós sempre defendemos isso, se mudarmos ficará feio. Seria uma ruptura da nossa parte! O povo está com ele, o Exército também, podem até nos derrubar.
Bem me quer, não é tão fácil nos tirar daqui. Nós já definimos que o artigo 142 não serve para isso, a imprensa é nossa, os amigos do Jamil Chade na ONU também. Não estamos mais nos anos 60, a comunidade internacional não aceitaria uma virada de mesa.
Mal me quer, ninguém está nem aí pro Brasil. Eles nos trocariam por outros, que agiriam como nós e inventariam qualquer coisa para dizer que o 142 é legal. Preocupado com a Ucrânia, o resto do mundo nem notaria o que aconteceu.
Bem me quer, e como fica o futuro? Se ele soltar um hoje poderá libertar quantos quiser amanhã. Como vamos censurar as redes e evitar críticas à urna mágica se ninguém nos temer? Até o Gengivão é capaz de voltar! Não, nós precisamos ter coragem e arriscar. Vamos enfrentá-lo de peito aberto.
Mal me quer, e se esse for desde o início o plano deles? Poucos lembram, mas ao ser preso pela primeira vez o brutamontes deu uma risadinha e disse que tudo estava saindo conforme o planejado. Se os atacarmos poderemos cair numa armadilha em que eles nos destruirão alegando que só estão se defendendo.
Bem me quer, mal me quer, bem me quer, mal me quer.
Rosa, indecisa, pensou que era injusto passar por isso agora, quando faltava apenas um ano para se aposentar. Lembrou do início, da menina estudiosa que saía cedo da cama quentinha para não se atrasar na escola. Da cozinha gelada no inverno, da vó que tomava chimarrão enrolada no xale enquanto ouvia, no velho rádio de válvulas, os programas de música regional que dominavam aquele horário.
Lembrou até da música, daquela que quando tocava a vó dizia: "essa eles fizeram pra ti, guria". Como era mesmo a letra? Rosa acabou indo procurar no Youtube:
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