Mordendo os cotovelos

Não foi apenas o julgamento de um deputado federal por "delito de opinião", o que já seria extremamente grave. Foi a sua prisão prévia, a sua coação ilegal, a humilhação totalmente desnecessária de obrigá-lo a usar tornozeleira e, finalmente, a sua condenação a quase nove anos de prisão!

Tudo sem nenhuma possibilidade real de apelação, orquestrado e conduzido pelos indicados do tucanopetismo que hoje dominam a mais alta instância do Judiciário e ali fazem o que bem entendem, dando interpretações absurdas às leis enquanto libertam amigos criminosos e condenam inimigos.

O termo não é exagerado, foi um deles quem disse recentemente, numa dessas amistosas reuniões em que eles agora trocam ideias com oposicionistas, que o governo eleito pelo povo é seu inimigo. Na sua depravada visão, o outro seria o mal e eles as forças do bem.

Combinar sentenças quase à vista de todos, aceitar como prova alegadas transcrições de mensagens cujo original nem se sabe se existe, aplicar regimentos internos ao mundo sob as alegações mais ridículas... Isso e muito mais passa a ser válido quando se trata de fazer o bem prevalecer, não é verdade?

Sim, respondem ansiosos os que, na política e na imprensa, não suportam mais viver longe do cofre que lhes foi fechado por aquele que acusam de querer estabelecer o que apoiam alegremente do outro lado.

Hoje estão indignados, não admitem que o mal encarnado tenha utilizado um instrumento perfeitamente legal para corrigir o absurdo cometido pelo bem. No seu mundo invertido eles podem fazer o quiserem, mas o inimigo não deveria nem ter o direito de invocar uma lei já muito aplicada.

Se pudessem, o tirariam à força de onde está. Convocariam o povo que responderia com multidões indignadas nas ruas, ordenariam que homens armados o conduzissem a ferros a algum fétido calabouço... os que alegam ser bondosos fariam o diabo.

O problema é que não podem. A parcela do povo que os apoia é composta por uma minoria de trapaceiros que não enche um quarteirão e uma maioria de imbecis que não iniciativa para tomar uma condução e participar de uma manifestação. Eles já conhecem a força das ruas, mas ela está do outro lado.

A das armas também. Seria (talvez ainda venha a ser) muito mais fácil esta se voltar contra eles do que o contrário.

Eles sabem bem disso. Nada têm de legalistas, só fingem se escorar nas leis porque não têm outra opção, não tem força para impor o que querem. Hoje estão mordendo os cotovelos de raiva, pensando mais uma vez em sua impotência e detestando não poder ir além dos discursos vazios.

Que fiquem assim para sempre.