sábado, 9 de abril de 2022

Olha ele chegando aí

Como a maioria de nossos adversários é um tanto previsível, me pareceu interessante um artigo que encontrei esse dias no UOL. Seu autor é Carlos Juliano Barros - 38 anos, jornalista e mestre em Geografia -, que combina algumas bobagens dominantes na esquerda com ideias que normalmente não se vê por lá. Em frente.

Bolsonaro vem forte em outubro: onde estão as propostas para derrotá-lo? Jair Bolsonaro vem forte demais para as eleições de outubro. A dança das cadeiras na janela partidária encerrada na sexta-feira passada, e que transformou o PL - a atual legenda do presidente - na maior bancada da Câmara com 73 deputados federais, é um ótimo termômetro da popularidade do governo.

Normalmente eles não notam isso. Ou fingem não notar. Há muita gente se iludindo com a promessa de que na solidão da urna eletrônica os eleitores vão, finalmente, punir Bolsonaro por toda sua incompetência. Motivos não faltam: milhares de mortes evitáveis na pandemia, inflação desembestada, desemprego de 12 milhões de pessoas, índices recordes de desmatamento, sequestro do Ministério da Educação por pastores picaretas.

Aqui ele volta ao discurso esquerdista normal, tentando escandalizar o nada, fazendo de conta que não existiu uma pandemia que causou problemas no mundo inteiro e esquecendo a luta contra o fecha tudo e a ausência de corrupção, entre outras questões. Mas a cada nova pesquisa divulgada fica evidente que Bolsonaro vem crescendo nas intenções de voto. Sinal de que o presidente conta com uma base popular muito superior à imaginada por uma banda negacionista da realidade política.

Sem contar que as pesquisas sempre "erram" a favor da esquerda, principalmente de 2018 para cá. Nisso, Carlos também é um esquerdista típico. Há muitas chaves para entender essa conexão tão visceral do presidente com quase um terço do eleitorado. A mais imediata e sedutora delas é a estética. O bolsonarismo construiu uma aura de rebeldia contra o politicamente correto e os valores progressistas, calcados no respeito às minorias e na defesa dos direitos humanos.

"Conexão visceral com um terço" acho que está certo. Mas quanto às "minorias" o problema é desrespeitar os outros. E não há nada de "direitos humanos" em quem apoia ditaduras e sempre quer censurar os demais. Além disso, o enredo religioso do político que carrega "messias" no nome - e que se vende como alguém que escapou por milagre da morte para salvar o país - é outra frente dessa dimensão estética capaz de cativar multidões.

Hummm, acho que nem tanto, a conexão através da religião não é bem essa. Mas é no diálogo com os brasileiros da base da pirâmide social que a eficácia do discurso bolsonarista se mostra mais intrigante. Como pode um governo que defende abertamente a supressão de direitos sociais e trabalhistas ter tanta legitimidade entre os que dependem justamente do trabalho para pagar as contas?

O primeiro erro do Carlos é voltar ao dogma esquerdista de que a dimensão econômica é tudo e esquecer que acabou de reconhecer que muitas pessoas, pobres e ricas, se conectam a Bolsonaro por questões culturais. Sobre o segundo falaremos abaixo. Em países como a França, onde a extremista de direita Marine Le Pen tem sua melhor chance de chegar ao poder nas eleições que começam no próximo domingo, os candidatos "populistas" se conectam com a classe trabalhadora insuflando a xenofobia. Em outras palavras, o culpado de todos os males é o imigrante que rouba empregos e perverte a cultura nacional. Por essa visão de mundo, o atalho para recolocar o país nos trilhos é simples: fechar as fronteiras.

Não é tão simplista assim, mas deixemos para lá os estrangeiros. Por aqui, o extremismo de direita sofreu adaptações à realidade local. A receita bolsonarista é apostar na acumulação primitiva e jogar a culpa em quem supostamente atrapalha aqueles que só querem produzir, sem encheção de saco. Assim, a solução mágica do bolsonarismo é esvaziar o Estado e estimular o cada um por si. Para caminhoneiros e motoboys com medo de ladrões, a recomendação é simples: compre uma arma. Para o dono de empresa disposto a precarizar seu funcionário, o recado é claro: não se preocupe com a fiscalização do governo. A realidade é que já estava todo mundo "precarizado" com o petismo e o inchaço do Estado só aumentava o problema, pensar o contrário é o segundo erro de que falamos antes. Ah, e continua tendo fiscalização, viu Carlos?

Na prática, isso soa como um salvo conduto para todo tipo de ilegalidade: do garimpeiro que retira ouro de terra indígena à dona de casa que não registra a empregada doméstica. Em um país em que os serviços públicos não gozam da melhor reputação e o Estado é visto como negligente, não é mesmo de se estranhar que esse discurso do vale-tudo tenha tanta ressonância: "só depende de mim, com ajuda de Deus".

Como são muitos equívocos, precisamos nos limitar. Carlos não deve saber que a obrigação de registro acabou com as empregadas domésticas. E não é todo mundo que está nessa de "depende de mim". 25% da população recebe auxílio e passou a ganhar o dobro com o governo atual. Isso não é usar o Estado bondosamente como o nosso amigo quer?

O que chama atenção, a esta altura do campeonato, é a falta de imaginação dos opositores do bolsonarismo para propor uma alternativa ao verdadeiro faroeste caboclo em que o Brasil foi transformado - em apenas três anos e meio.

A única coisa que eles imaginam é a chave do cofre de novo em suas mãos. Carlos parece um pouco ingênuo nesse ponto. Se existem boas propostas para recuperar a economia e gerar empregos decentes, elas não foram colocadas na mesa ainda. E estamos a apenas seis meses das eleições mais importantes desde a redemocratização do país. Até porque Bolsonaro não parece disposto a aceitar uma derrota - se perder.

Se essas boas propostas existissem a débil mental não teria causado a maior recessão de nossa história sem pandemia alguma. Eles só querem o poder e a grana, Carlinhos. Sim, também é preciso que setores que chocaram o ovo do bolsonarismo, como a nata do mercado financeiro e os grupos da direita democrática, façam um mea culpa e condenem, de uma vez por todas, a ameaça que o atual governo representa.

Ok, Carlos, vou me penitenciar por chocar a ameaça de... de... De que mesmo? Me lembrei do artigo da Eloucona: é morte, é censura é prisão... No mundo real as mortes violentas despencaram e quem censura e prende arbitrariamente são os ditadores instalados no STF pelo petismo.

Mas, acima de tudo, é necessário construir um projeto de país que faça brilhar os olhos dos eleitores. Foi exatamente o que Bolsonaro fez em 2018, ao canalizar a raiva de uma grande parcela da população brasileira e implementar um programa de governo baseado na pura e simples destruição. Não nos enganemos: há um risco cada vez maior de ele ser bem-sucedido, novamente.

Eis a síntese do rapaz. Por um lado ele faz um diagnóstico totalmente alucinado sobre o que leva as pessoas a votarem em Bolsonaro. Por outro, reconhece que há um enorme risco delas fazerem isso de novo. Deve ser meio angustiante essa contradição.

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