quinta-feira, 21 de abril de 2022

No futuro nos acharão estranhos também

Todos esperavam a condenação. Atacar daquele modo a ordem vigente, o poder real, não poderia dar em outra coisa. O que surpreendeu foi a gravidade da pena, principalmente quando comparada a de outras decisões do mesmo tribunal. E o pior é que parece tudo normal, hoje já não se fala do assunto.

Pobre Tiradentes, dei uma passada pelos vários sites e portais sem encontrar uma só referência à execução e posterior esquartejamento do coitado. O único feriado brasileiro dedicado a uma pessoa comum e a turma indo para a praia sem gastar um segundo de memória com quem está por trás da folga.

Nessas constantes revisões de nossa história dizem que ele nem era tão importante no esquema, só tinha o péssimo hábito de falar demais. Mas os juízes responsáveis pelo caso não levaram isso em conta e decidiram utilizá-lo como exemplo do que poderia acontecer a quem ousasse afrontar os poderosos da época.

Claro que o ofendido era o rei, não os próprios juízes. Se a afronta fosse a eles, nem poderiam julgá-lo. Naquele tempo a lei não admitia que alguém se colocasse como vítima e julgador do mesmo caso. Essas coisas parecem exóticas, mas é assim, os costumes vão mudando e cada época tem os seus.

O que também pode parecer surpreendente para nós é o motivo por trás da conjuração. Os revoltosos não queriam mais pagar o Quinto, o imposto de 20% cobrado na ocasião. Imagine se fosse hoje, quando só de ICMS você pode ter quase isso. Se alguém se candidatasse prometendo cobrar 20% ganhava no primeiro turno.

E a outra grande diferença é que os inconfidentes estavam preparando mesmo uma rebelião. Uma de verdade, daquelas de dar tiro, mudar o governo e tudo o mais. Se eles estivessem só falando, maldizendo alguém, talvez lhes tivessem dado no máximo umas lambadas para aprenderem a ter mais educação.

Era outro mundo, estranho para nós.

Um bom feriado de Tiradentes para todos.


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