É fácil ganhar um milhão. Basta inventar uma história qualquer e pedir um real para quem está passando na rua. Alguns podem lhe chamar de vagabundo, mas alguém acabará lhe dando o dinheiro. Repita a operação um milhão de vezes e pronto. O grande entrave é o tempo, você talvez morra de velho antes de chegar lá.
O criminoso indevidamente descondenado quer arrecadar milhões. Não de dinheiro, que isso ele já tem demais. São milhões de votos evangélicos. Para tal, ele seguiu a fórmula acima e criou uma história cujo cerne é:
(...) os evangélicos nunca foram tão respeitados nesse país como no tempo em que eu fui presidente da República. Pode pegar o cara que menos gosta de mim, ele vai dizer: 'no tempo do Lula o povo evangélico comia mais, ganhava mais'.
O enrolation poderia ser facilmente desmantelado, mas é bem armado e muito evangélico cairia nele. Os problemas do meliante começam com quem o chama de vagabundo. Ele decidiu que a melhor maneira de lidar com isso é ser agressivo e partiu pra cima dos caras, a começar pelo presidente da República:
(...) o presidente atual não acredita em Deus. Ele é mentiroso até para isso. Olha nos olhos dele quando ele fala em Deus. Aquilo é uma peça eleitoral. Ele tramou com alguns pastores. O comportamento dele, o histórico da vida dele, a vida política dele, até a vida militar, não é condizente com a de um cristão, com a de um homem temente a Deus, que crê em Deus. Não é (...) ele fica mais religioso na época da eleição, ele fala mais no nome do Deus, dá mais dinheiro do MEC para alguns pastores.
Tramou com pastores, deu dinheiro para pastores. Pastores, pastores, como estes em geral o consideram um lixo humano, entraram também na sua linha de tiro. Tendo concluído que eles não passam de pecadores, o homem sem pecado (como afirmou em 2005) não quer conversa com esses "farofeiros":
A gente não tem que conversar com pastor, a gente não tem que ficar atrás daquele farofeiro que fala, fala, fala, fala em nome de Deus cometendo um pecado todo dia, até porque utilizar o nome de Deus em vão já é um pecado.
Até a parte do presidente estava bem. Mas se ele está agredindo o pastor, como estará entrando no templo para falar com as ovelhas? Parte da resposta vem a seguir:
(...) quero conversar com o povo católico e evangélico para mostrar que é possível tratá-los com mais decência, sem cometer o pecado de utilizar o nome de Deus toda hora (...) Temos que conversar com o povo, o homem e a mulher evangélica, discutir com eles os problemas do Brasil.
Quero conversar, temos que conversar. Agora deu para entender, ele não está entrando em templo algum nem falando com ninguém. Trata-se de um plano a ser executado no futuro, uma reedição do seu discurso ao sair da cadeia em 2019, uma espécie de "Temos que Falar com Evangélicos - parte 25".
O truque de fundo até é bom. Consiste em dizer que eleição é para discutir "os problemas do Brasil" de um ângulo meramente econômico, não para falar de valores e, menos ainda, para usar o nome de Deus. É o que resta para um ladrão, defensor do aborto, do kit gay e do roubo de celulares.
Mas esse negócio de agredir os pastores é complicado. O egresso do sistema prisional deveria lembrar que cada um deles está junto do seu rebanho, pessoalmente e através do celular. Parece mais fácil o farofeiro colocar o pessoal contra ele do que o contrário.
E como ele vai falar com os evangélicos? Lembre do primeiro parágrafo, o grande problema é o tempo. Catar um por um na rua não vai dar. Horário político quase ninguém assiste mais. Jogar folheto não resolve. Nos grupos de zap da turma ele não vai entrar.
Eu continuo achando que a melhor solução ainda é aquela das unidades móveis, com grupos de audaciosos petistas estacionando suas kombis na esquina das igrejas e deslocando-se rapidamente de uma para outra, para pegar o pessoal que sai do culto sem o farofeiro ver. Não querem seguir a sugestão, paciência, não reclamem depois.
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