segunda-feira, 28 de março de 2022

Tesouras

Já que até bandidos condenados por unanimidade em três instâncias estão sendo indenizados, faz sentido o que Guilherme Baumhardt escreveu dias atrás no Correio do Povo: todos os que no passado compraram os tucanos como inimigos figadais da gang lulopetista deviam ser tratados como consumidores lesados por um farsante.

Estelionato

O eleitor brasileiro é merecedor de uma indenização, uma gorda indenização. Durante anos, ele foi induzido a acreditar que PT e PSDB eram partidos diferentes, de ideologias diferentes, com pensamentos e condutas diferentes. Hoje sabemos que tudo não passava de uma grande e imensa bobagem, uma gigantesca mentira, levada a público para enganar os bobos – ou seja, nós. Estamos diante de mais uma prova (a fase das evidências já passou faz tempo) de que os embates vistos nas eleições de 1994, 1998, 2002, 2006, 2010 e 2014 não passavam de um teatro. Tucanos e petistas têm muito mais em comum do que você imagina. Algum leitor mais atento pode dizer: "Mas eles faziam aquilo tão bem!". Verdade. Mas também fomos patetas. Durante o auge da crise do Mensalão foram reais as chances de impeachment do ex-presidiário Lula. Sem apoio político, enfraquecido, com a popularidade em queda e olhando para o céu na esperança de que uma desculpa menos esfarrapada caísse sobre as suas mãos, o ocupante do Palácio do Planalto teve sua cabeça preservada por... Fernando Henrique Cardoso! Sim, ele mesmo. A tese vendida na época foi a de que "vamos fazer Lula sangrar até as eleições e ganharemos nas urnas". Balela. Veio 2006 e Geraldo Alckmin tomou um laço. Sim, Alckmin, este mesmo que agora será vice de Lula, foi em 2006 o seu "oponente". Nossa luz de alerta deveria ter acendido ali. Não foi o caso. Naquela mesma eleição, o PSDB foi taxado de neoliberal, por ter vendido meia dúzia de "DinossaurosBrás". Era uma crítica às privatizações, entre elas a da Telebrás, que abriu caminho para que milhões de brasileiros não fossem mais obrigados a virar sócios de estatais falidas Brasil afora. Uma linha telefônica passou a ser barata, o serviço ficou acessível e celulares viraram instrumento de trabalho de domésticas e pedreiros. No lugar de ficar orgulhoso e defender um legado virtuoso, o PSDB (que é e sempre foi de esquerda) ficou envergonhado. Um patético Geraldo Alckmin foi para as ruas vestindo um macacão laranja da Petrobras, um boné azul dos Correios e disse que não privatizaria mais nada. Outra vez fomos avisados. E ignoramos.

Não custa relembrar. Embora tenha ficado em segundo lugar, Alckmin teve impactantes 41,64% dos votos válidos no primeiro turno de 2006 - para comparar, o Kitgay não chegou a 30% em 2018. Dava para chegar, pelo menos para chegar mais perto. Mas ele se comportou de maneira tão ridícula durante o segundo turno que acabou com uma votação menor que a do primeiro. Como diz um querido amigo: a diferença entre PT e PSDB é que o segundo aprendeu a usar mais talheres na hora do jantar de gala. Se não fossem o Plano Real e a Lei de Responsabilidade Fiscal, duas boas heranças tucanas para o país, eu seria obrigado a concordar com ele. Sobre o título da coluna, reforço: há algo em torno de 50 milhões de brasileiros esperando indenização por estelionato eleitoral.

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