terça-feira, 29 de março de 2022

Breves observações sobre o ressentimento

Dias atrás, analisando o texto em que um intelequitoal petista afirmava que o eleitorado de Bolsonaro é composto por remediados ressentidos porque não conseguem melhorar de vida, nós usávamos o fato de políticos não usarem esse discurso como indício de que a classificação do camarada era falha.

Quem fazia muito isso, dizíamos então, era justamente o ex-presidiário com aquela história de que "eles" não queriam deixá-lo colocar o pobre no avião e na churrascaria. O sujeito mais à direita não costuma subordinar seu destino à caridade de um político e acredita que chegará lá por conta própria.

No entanto, essa história de que o participante da onda conservadora-direitista é um ressentido não é exclusiva do intelequitoal em questão. O que acontece é que a maioria dos seus colegas de ideologia é um pouco mais inteligente (o que não parece difícil) e não a coloca em termos econômicos, mas nos dos chamados costumes.

Aí sim, realmente existe a sensação de que "eles" tomaram algo que era nosso e querem nos obrigar a viver sob suas regras. Usando a prova que antes invocamos, temos inclusive a exploração política disso, com as críticas às posições da esquerda politicamente correta sobre o aborto, a ideologia de gênero e todo o restante.

Eu só não sei se ressentido é a palavra mais adequada nesse caso porque ela me parece conter uma espécie de mania, um apego despropositado de fundo subjetivo. E a crítica ao predomínio do politicamente correto é baseada em fatos objetivos, o sentimento contra ele é similar ao do francês que via seu país dominado pelo invasor nazista na guerra.

Mais que isso, se o mundo de repente parecer nublado o tempo inteiro é mais provável que o problema esteja nos seus óculos. O intelequitoal passou a ver tanto ressentimento ao seu redor porque é ele quem se deixou dominar por essa emoção e sente que "eles" estão roubando algo que era ou deveria ser seu.

Para chegar a essa conclusão basta verificar que as críticas à agressividade do direitista ressentido são frequentemente acompanhadas de reclamações sobre o desprezo dessa gente ignara ao "conhecimento científico", ao "saber acadêmico" ou alguma outra coisa que se refira ao mundinho em que o intelequitoal predomina e lhe parece superior.

Um exemplo disso foi dado recentemente, quando o tal César Castejón não conseguiu dizer se Cuba era ou não uma ditadura. Sua queixa de "cientista social" era que a resposta precisava ser muito longa e sua opositora, uma ressentida de poucas luzes que ganhou espaço com a odiosa Internet, exigia apenas um sim ou um não.

A verdade é que gente como o César diz que um cachorro é um gato e quer ser levada a sério porque tem um diploma de veterinária. Isso ainda funciona entre os intelequitoais, mas parecia funcionar para todos enquanto eles falavam para os amigos da imprensa e o restante da sociedade não tinha voz.

Com as redes, quem se indignava (se ressentia) ao ouvir essas asneiras calado tirou o atraso e passou a ridicularizá-las como merecem. Do outro lado, os detentores do desvirtuado "saber acadêmico" optaram por se fechar e confirmar uns aos outros sua pretensa superioridade, ressentidos com a invasão de bárbaros.

São muitos ressentimentos, diria Roberto Carlos.


Nenhum comentário:

Postar um comentário