quarta-feira, 30 de março de 2022

Revolução

Não errei a data, a revolução é a que foi anunciada neste espaço há quatro anos, que muitos outros concordam que está aí e pela qual a nossa época talvez venha a ser lembrada pelos pósteros. Não há textos grandiloquentes, apenas três flashes de um processo que avança de forma lenta, segura e gradual.

Como sempre, nada como ver a coisa pelos olhos de quem a teme. Um deles, o piradinho que chama todo mundo de nazista, Marco Antonio Villa, escreveu:

(...) os evangélicos foram ocupando espaços onde o Estado estava ausente. E transformaram suas igrejas em partidos políticos. O sagrado se transformou em linguagem profana, política. As contradições sociais e econômicas, as injustiças tão presentes no Brasil, acabaram sendo justificadas e aceitas. Foi estabelecida uma Teologia da Libertação às avessas.

Os partidos políticos a cada eleição acabaram se submetendo à lógica dos pastores. Isto porque nas últimas décadas surgiram centenas de igrejas evangélicas com milhões de adeptos. Uma delas tem até um partido político para chamar de seu. O chefe partidário considera o pastor o novo coronel, agora urbano. Vai à igreja e publicamente pede apoio do pastor. Isto dá ao pastor uma legitimidade ainda maior frente ao seu "rebanho". Não se importa que está legitimando uma prática nociva à democracia, como também ferindo a Constituição. Romper o coronelismo evangélico é hoje uma tarefa de sobrevivência para a democracia brasileira. Os partidos têm de buscar o eleitor evangélico sem passar pelo controle dos novos senhores. Defender o Estado laico está se transformando quase em uma ação subversiva, por mais estranho que pareça. O governo Bolsonaro já demonstrou quão nociva é a relação fanatismo religioso-política. É necessário urgentemente dar um basta a tudo isso.

Eis o "temos que falar com os evangélicos" na versão Villa, que, como os petistas, só não explica por que a Constituição está sendo ferida e como é que se faz para dar o basta que lhe parece urgente. Mas nós explicamos o que nos basta: se os petobas e os piradinhos estão incomodados é porque o troço está no caminho certo.

O segundo flash é do César Calejón, para quem a "tempestade perfeita" que nos aguarda não é a tirania bolsonarista, mas o domínio evangélico. Ele pode não saber se Cuba é uma ditadura, mas percebe que não há esquema político capaz de competir com um modelo em que, numa garagem e a partir de um treinamento mínimo, o sujeito que talvez estivesse perdido na vida pode se tornar um pastor respeitado por seu rebanho.

Os valores morais desse rebanho certamente não serão os politicamente corretos, mas os tradicionais que tanto apavoram César. E que esse grupo tenderá como um todo à direita - a justificar e aceitar as injustiças, na linguagem do Villa - está implícito na apresentação do pastor como um self-made man.

E se o pastor for um esquerdista enrustido e quiser arrastar seu fiel para esse lado? Talvez não seja tão fácil, pois o rebanho não é tão bovino como alguns pensam. As pessoas querem aqueles valores e aquela visão do mundo. E sabem reconhecer quem realmente os defende na arena política. O terceiro flash é uma nota do Antagonista:

Um deputado da bancada evangélica disse a Lauro Jardim: "Os votos que tenho hoje são mais do Bolsonaro do que meus. Hoje, o meu eleitor é mais eleitor do Bolsonaro do que meu. Todos os pastores sentem isso. Ele penetrou no nosso segmento de uma forma muito poderosa." Mais um indício do quanto as atuais pesquisas são fajutadas. Porém o ponto não é esse, e sim que isso também indica a existência de um movimento coletivo muito grande e cada vez mais consolidado. Hoje ele se expressa melhor politicamente através de Bolsonaro, mas continuará mesmo que o presidente perca a eleição, se aposente ou morra.

Há uma revolução silenciosa em andamento. E ela pode caminhar sozinha, embora seja melhor ter quem marche ao seu lado. E tem, mas esse já é outro assunto.


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