sábado, 12 de março de 2022

Pontos fundamentais

Entre os esquerdinhas que se dedicaram a estudar o fenômeno, um dos mais divertidos é o tal Cesar Calejon, que escreve a coluna Entendendo Bolsonaro (no UOL, onde mais?) e ontem nos brindou com o artigo "Na base da retórica do ódio, Bolsonaro prepara o 'dia do caos' para 2022".

Cesar explica que, em debates que foram verdadeiros estudos sociológicos, descobriu que os fascistas tornaram a política o campo do afeto. Agora, baseando-se em afetos negativos com o ódio e o ressentimento, os bolsonaristas preparam o seu dia de caos, uma espécie de invasão do Capitólio mais porrada que deverá acontecer em novembro ou dezembro, após a eleição e com Bolsonaro ainda na presidência.

É a mesma ideia do Villa. E a mesma solução final, pois o rapaz termina tratando sua imaginação como fato consumado e querendo que alguém tome providências para impedir que os irresponsáveis que estão incentivando esse clima continuem agindo sem sofrer consequências.

Seu artigo é mais dedicado a estes irresponsáveis, "microempreendedores ideológicos" que se aproveitam da redução de complexidade do mundo digital para falar superficialmente sobre tudo e ganhar dinheiro desmoralizando as profundas e complexas análises que só os intelectuais esquerdistas conseguem fazer.

Percebeu algum ressentimento aí? Pois é, ele se tornará pessoal. O Cesar conta que debateu durante um total de mais de sete horas com a cubana Zoe Martínez, que de vez em quando é copiada em um comentário por aqui. Pelo jeito, a surra foi feia. Mas deixemos que o próprio Cesar diga o que mais o incomodou:

Nesse sentido, toda a exposição das análises fica restrita a clichês bolsonaristas, tais como ponderar se Cuba é ou não uma ditadura, se a "mamata" acabou no Brasil, se o comunismo é pior que o nazismo, se o PT implementará o "kit gay" nas escolas, se as urnas eletrônicas serão fraudadas e assim por diante. No que ela considerou a sua grande vitória argumentativa, Zoe encheu-se de razão ao me questionar se Cuba era ou não uma ditadura, por exemplo. Ao tentar ponderar a complexidade material e histórica pertinente à questão, considerando o regime assassino de Fulgêncio Batista, que ela defende incondicionalmente, a invasão da Baía dos Porcos, o embargo estadunidense etc., fui confrontado com uma postagem em uma rede social, que insistia: "Cuba é ou não é uma ditadura"?

Pô, Cesar, que sacanagem, o pessoal não discute como seus amigos, tadinho d'ocê. Mas é o que a gente fala sempre, querido, vocês se acostumaram a falar entre si e não conseguem defender seus argumentos quando são enfrentados de verdade, sem a aceitação tácita do enrolation que você imagina ser profundidade.

Não é que os temas não possam ser "aprofundados", tudo pode, qualquer sujeito mais ou menos letrado pode falar durante horas sobre muitos assuntos, pulando de cipó em cipó. Mas as vigas sempre serão mais importantes que a decoração das paredes.

As redes realmente favorecem as abordagens curtas de que Cesar reclama. Mas o que o desagrada é o pessoal usá-las para tocar em pontos que fazem todo o seu edifício retórico desmoronar. Cuba é ou não é uma ditadura? O PT fez ou não fez o kit gay? Bolsonaro, que você chama de fascista, prendeu ou censurou alguém?

Uma vez eu li que perguntaram a Abraham Lincoln qual era o segredo de seu sucesso como advogado e ele respondeu que era descobrir o ponto fundamental de cada caso e nele se concentrar. Viu, Cesar? E olha quem deu o conselho, justamente o cara que ganhou a Guerra Civil. Xiii.


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