Virou meme por aqui aquele recorte da manchete estampada pelo UOL/Folha há uma semana do primeiro turno da última eleição presidencial. Nela, invocando os números do instituto de pesquisas da casa (quase idênticos aos do Ibope e similares a vários outros), afirmava-se que Bolsonaro perderia para qualquer um no segundo turno.
Ou seja, mesmo quando as mais badaladas dizem a mesma coisa, as pesquisas erram. Erram há dias da eleição e têm sistematicamente errado a favor de candidatos de esquerda nos últimos tempos, basta lembrar, no mesmo 2018, da eleição, que elas davam como praticamente garantida, de Dilma e Requião.
Eu acredito que existe mais do que erro no caso atual. E isso não seria nenhuma novidade, pois nós já até tivemos delações premiadas, desaparecidas no cipoal jurídico, que prometiam apresentar provas de que esses desvios dos maiores institutos eram propositais. Mas fiquemos com o fato de que as pesquisas têm errado demais.
Voltando à manchete do Grupo Foice, claro que a mensagem ali transmitida era outra. Como o adversário de Bolsonaro no segundo turno seria o partido-quadrilha, o que ela realmente queria dizer era: se você não quer o PT eleito não vote em Bolsonaro no primeiro turno, vote em algum outro (Alckmin, por exemplo).
Agora, novamente baseados nas pesquisas, alguns pedem explicitamente a mesma coisa, que Bolsonaro desista da eleição para que outro candidato possa vencer o PT.
Existe lógica nesse tipo de coisa. Eu mesmo talvez tivesse votado em Brizola contra Collor num segundo turno que não houve em 1989. Ciro poderia ter sido um adversário mais temível contra Bolsonaro do que o insosso Kitgay. Mas há diferenças que devem ser levadas em conta nesses dois exemplos.
A ideia de quem pedia Brizola e Ciro era semelhante a de quem pediu e obteve Fernandez na Argentina. Kirchner, o PT de lá, entrou de vice na chapa, só saiu da vitrine principal para que o outro amealhasse os votos que seriam dela e mais alguns poucos que não gostavam muito do adversário, mas o prefeririam a ela.
O que se propõe hoje é muito diferente. Moro, apresentado para substituir Bolsonaro, não demonstra a mínima vontade de compor com ele. Pelo contrário, vive a atacá-lo de modo absurdo, equiparando acusações de rachadinhas de familiares à bilionária corrupção institucionalizada pelo ex-presidiário.
Outra diferença é que Brizola e Ciro não eram apostas no escuro. Ambos eram antigos no ramo, transitaram para um lado e para outro, você sabia mais ou menos o que podia esperar de cada um. De Moro você só tem a fantasia de quem imagina que ele encarnará seus sonhos de como um presidente deveria ser.
Por fim, mas não por último, Brizola saiu do Rio Grande e elegeu-se governador no Rio de Janeiro. Ciro se sairia melhor que muitos caso deixasse o Ceará e concorresse ao governo de São Paulo. Estamos falando de dois políticos tarimbados que sempre conseguem (conseguiam) tocar uma parte do eleitorado. De Moro, nesse assunto, nem é bom falar.
Você só pode pensar em passar o bastão para quem acredita que pode correr mais, não para quem ainda nem mostrou que sabe caminhar.
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