quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

Pânico na floresta

Não é exatamente pânico, talvez fosse melhor chamar de incômodo. Mas é na floresta, lá no centro do mundo, para onde ela se retirou para fazer algo que nunca tinha feito e não sabia muito bem o que era. Continua não sabendo. E não bastasse o destino do planeta, agora surgiu outro problema que ela não sabe como resolver.

Tudo começou quando uma desconhecida vereadora carioca foi blufetizada para aumentar o aquecimento global. Bem, talvez também não tenha sido exatamente por isso, mas Elaine Bruma relacionou o fato àquele negócio que ela não sabia direito o que era e decidiu que não podia permitir que o esquecessem.

Para tal, todos os dias, faça chuva ou faça sol, derreta a geleira ou queime a árvore, ela entra no Twitter, atualiza a contagem do tempo e publica o texto abaixo:


De vez em quando um petista diz que foi Bolsonaro ou alguém recorda que os traficantes não gostam de caloteiros. Mas, no geral, como acontece com toda mania de maluco, depois de algum tempo o pessoal passou a considerar seus tweets como uma parte da paisagem a que não se precisa prestar atenção.

E então aconteceu. De repente, do nada, com uma frequência quase idêntica, alguém passou a responder. Não revelando quem mandou sancionar a dita cuja, mas perguntando, como a Elaine sempre faz, quem mandou sacaneá-lo em certa ocasião.

Não é um perfil fake, o cara existe. Ele foi fazer pós em Filosofia em Santa Catarina, alguém criticou sua tese e... bem, eu não tive paciência para ver o resto do vídeo em que um sorridente Érisson conta sua história. E o problema não é ele. É ela, que já não sabe o que fazer.

As noite em claro ela já passava, pensando nas maldades de Bolsonaro e nas inundações que destruirão nossa civilização. Mas aí era fácil ter um lado, distinguir o bem do mal. Em relação ao filósofo, Elaine não consegue se posicionar.

Ela não pode bloqueá-lo por ser um maníaco que se limita a repetir uma pergunta à exaustão porque estaria atirando no próprio pé. Todos perceberiam a incoerência, vizinha de porta da desmoralização. E para piorar o doidinho é negro. Poderiam acusá-la de racismo, ainda que induzido pela sociedade, estrutural.

Por outro lado, esse tipo de loucura atrai suas iguais. O sujeito não começou a perguntar todo dia ao ver seu exemplo? Quem garante que outro não o seguirá? E outro, e mais um? Daqui a pouco sua conta pode virar um abrigo de alucinados cuja vida se fixou numa questão. Quem fez aquilo comigo? E por quê?

Pior ainda, a Internet é terrível, podem passar a inventar perguntas por zoação. Quem tirou a azeitona do meu pastel? Quem pegou minha cueca para fazer pano de prato? Ela, que entrou na rede para salvar o mundo, pode acabar virando um meme.

Por enquanto, na dúvida, Elaine decidiu bloquear os casos em que é evidente que a pessoa está zoando ou aproveitou a distração da enfermeira para usar o computador do hospício. Nesta madrugada mesmo, ela deletou uma mensagem que dizia: "Quando o diabo enviou Bolsonaro para a terra? E por quê?"

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