segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

Russomano style

O artigo de Eliane Cantanhêde no Estadão de ontem começou assim: "A eleição presidencial deu um salto no fim do ano e congelou no ar." E terminou assim: "Conclusão: vai ter muita lavação de roupa suja e, quando a máquina esquentar, a imagem de hoje pode descongelar. É cedo para jogar a toalha."

Quem ela acha que está jogando a toalha é a turma da terceira via, que, concentrada em Sérgio Moro, estaria desanimada com seu desempenho nas pesquisas e já discutindo se é menos pior votar em Bolsonaro ou no patrono da corrupção.

A colunista não contesta as pesquisas diretamente, mas diz que o cenário captado por elas pode mudar quando a campanha começar para valer. É aí que se verá a "lavação de roupa suja" e a terceira via poderá entrar no vácuo enquanto as demais se engalfinham. Se ela ainda existir, é óbvio.

Ainda no blog antigo, ao falamos sobre como são comuns essas viradas, nós citamos outro texto em que a mesma Eliane afirma que a maioria só vai se preocupar com as eleições mais à frente. Ou seja, já é a segunda vez que ela confessa que as atuais pesquisas valem tanto quanto aquelas em que Celso Russomano arrasava.

Até o UOL

Também ontem, no UOL, José Luiz Portella, deu números à maioria da Eliane ao salientar um detalhe da última pesquisa Genial/Quest, um dos três ou quatro institutos que estão sendo usados para tentar convencer a população de que o criminoso triplamente condenado seria imbatível nas urnas.

Ele se fixou na intenção espontânea, quando os entrevistados não estão expostos a uma lista de candidatos. 27% deles teriam citado o bandoleiro petista. 16% foram de Bolsonaro. 3% não pretendem votar. 2% se dividem igualitariamente entre Moro e Ciro. E nada menos que 52% se declaram indecisos.

Claro que nem isso é certo. Nós sabemos, por exemplo, que o percentual dos que anulam ou voto ou nem aparecem para votar beira os 30%, dez vezes mais do que deu. Mas a conclusão do Portella é inevitável: o pessoal ainda não está realmente preocupado com a eleição e, portanto, nada está decidido.

No restante do artigo ele minimiza as chances de Bolsonaro (o que é compreensível para quem escreve no UOL), preferindo salientar que o presidiário que se esconde do povo ainda não sofreu o bombardeio que virá de todos os lados e há espaço para que apareçam outros nomes que comovam o eleitorado.

Uma opinião

Quanto ao Moro, eu acho que o desânimo que a Eliane detecta não está diretamente ligado às pesquisas. O típico eleitor do ex-juiz é um sujeito instruído que sabe que as de agora pouco valem. O que o abala é o próprio candidato, que fica por aí repetindo platitudes num tom insosso que não entusiasma nem seu vizinho de classe média, quanto mais o povão sem o qual não se vence eleição alguma.

A outra opinião seria sobre as pesquisas em si. Creio que as desta eleição se revelarão mais distantes da realidade do que o normal e o pessoal que comanda parte desse processo está num dilema de difícil solução. Mas isso fica para outra ocasião.

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