"Este é o último post de Saída Pela Direita. Minhas novas funções (...) me levaram a decidir encerrar o blog. Foram três anos intensos dedicados a falar de conservadores, liberais, bolsonaristas, monarquistas, evangélicos, ruralistas, armamentistas, militares e tantos outros segmentos do mundo destro."
"Muita gente estranhava no começo e me perguntava por que um blog sobre a direita? A resposta era sempre a mesma: porque a direita era a novidade do momento, um mundo ainda desconhecido pela bolha progressista, e que de repente se impôs politicamente com a eleição de Jair Bolsonaro, em 2018. Era preciso contar essa história."
Foi assim que Fabio Zanini anunciou o final do espaço mais honesto que a direita obteve na Folha recentemente. Ele agora trabalhará no Painel do mesmo jornal, para onde promete levar o que descobriu em suas pesquisas.
Mas o interessante é o modo como ele fala do segmento ideológico que atualmente deve ser majoritário no país (a direita pode ser derrotada eleitoralmente porque quem não está nem aí para essas coisas também vota, mas em termos de engajamento as manifestações de rua dos últimos tempos são um bom exemplo da situação atual).
É como se ele fosse Marco Polo descrevendo a China dominada pelos mongóis aos seus compatriotas venezianos, um país distante habitado por povos exóticos, um mundo desconhecido repleto de costumes estranhos.
Ao falar sobre a direita nesse tom, o blog ora encerrado falou muito mais de nossa esquerda. Nunca houve uma confissão tão clara de que o jornal que se pretende o maior do país está voltado para uma pequena bolha que não apenas não dá espaço para vozes discordantes como desconhece sua existência.
É isso que explica aqueles artigos em que eles se referem a algum aspecto da direita como se fossem supersticiosos habitantes de um vilarejo medieval falando dos monstros que percorrem as florestas à noite. Reunidos ao redor da fogueira, tudo faz sentido para eles e torna necessário esconjurar as criaturas das trevas.
A gente já sabia disso porque tem o hábito inverso, de observá-los com atenção. Mas é interessante ter essas confirmações, que, no caso em pauta, envolvem também os assinantes que restaram à Folha e podem lá se manifestar. Os comentários dos artigos do Fábio eram um espetáculo à parte.
Creio que foi no artigo anterior ao da despedida que o autor explicou o que era a "estratégia das tesouras" e como a união entre Alckmin e o criminoso condenado por unanimidade nas três instâncias técnicas ofereceria, para os direitistas, uma prova de que só havia mesmo uma mão comandando as duas lâminas em aparente oposição.
Os leitores protestavam, alguns o acusavam de estar defendendo a existência da estratégia, outros de direitista e por aí afora. Como sempre, não deixava de ser divertido observar o comportamento da bolha. Nossas visitas à China são constantes, mas a gente sempre se sente um pouco como o Marco Polo em suas viagens.
Marco Polo faleceu há 698 anos, em janeiro de 1324.
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