Com nome mais bonito e pagando o dobro, o Auxílio Brasil é melhor que o falecido Bolsa Família. Mas não é tão bom quanto foi o seiscentão do Auxílio Emergencial. Este sim funciona, resolve o problema, a gente já testou e sabe o que acontece. Não haveria um meio de aproximar um do outro?
Foi pensando nisso, tempos atrás, que eu me lembrei das antigas "frentes de trabalho". Era um negócio meio keynesiano, anterior às bolsas. A seca apertava e o sertanejo não tinha como se virar. O governo inventava uma obra e contratava a turma para fazer uns bicos e ter um dinheirinho.
E se juntassem as duas coisas? A vantagem é que agora não seria preciso sustentar alguém com isso, já existe o Auxílio Brasil. Você poderia pegar uma vaga e rachá-la em quatro, de maneira que o sujeito trabalhasse meio turno durante três dias da semana e ganhasse, digamos, um quarto de 1.200, trezentão.
Uma moleza para o contratado, quase um motivo para sair de casa e socializar. Até duas mães sozinhas poderiam cuidar dos filhos uma da outra por um tempinho para que ambas entrassem na jogada. E, para quem vive com 400, receber mais 300 ou 350 seria uma maravilha. O total superaria o Auxílio Emergencial.
Era o que eu pensava.
Pois qual não foi minha surpresa ao saber que não estava só. Em entrevista concedida ontem à Rádio Guaíba, o ministro Onyx Lorenzoni anunciou que nosso governo lançará nesta sexta (28) a MP do Serviço Civil Voluntário, um programa temporário de incentivo a quem foi muito afetado economicamente pela pandemia.
Essa é a justificativa oficial. E é evidente que o ministro lembrou dos jovens que nem estudam nem trabalham, dos mais velhos, dos 26 milhões de invisíveis descobertos com o Auxílio Emergencial, do total de 40 milhões de informais, nos cursos profissionalizantes que os inserirão no mercado formal e tudo o mais.
Também é óbvio que muito disso não vai dar certo a longo prazo. Mas, como nós keynesianos dizemos, a longo prazo todos estaremos mortos. O importante é que o modelo pode funcionar pelo período imaginado em meu plano - um aninho, por aí - e se aproxima muito dele em pontos como estes, citados no Correio do Povo:
Integrantes de famílias inscritas no Cadastro Único e em programas de transferência de renda como o Auxílio Brasil serão priorizadas.
Os municípios que aderirem à nova MP poderão contratar pessoas desempregadas há mais de dois anos, sem a necessidade de concurso público ou vínculo empregatício. Os beneficiados receberão uma bolsa-auxílio do Governo, no valor equivalente ao do salário mínimo por hora. A jornada máxima será de 22 horas semanais, limitada a oito diárias. Meu ideal eram 12 horas por semana e quatro diárias para quase dobrar o Auxílio Brasil. E no fim acho que tende a ficar próximo disso na maioria dos casos. Porém, onde tiver espaço no orçamento e o pessoal quiser se matar de trabalhar, podem ser 22 horas para o valor final ultrapassar o milhar.
O importante é deixar nosso povo feliz neste 22 do Bicentenário. Principalmente aquele quarto dele que recebe o Auxílio Brasil (e mais uma franja próxima disso). Se a coisa der só meio certo, essa camada mais humilde nunca terá sido tão bem tratada neste longo trajeto de Pedro a Bolsonaro.
Eu tenho um segundo plano para estabelecer uma boa comunicação com os beneficiados por essas medidas neste ano tão especial. Mas com isso eu nem me preocupo porque, embora ninguém tenha anunciado nada, tenho certeza que já tem gente com ideias ainda melhores de prontidão.
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