Vai longe o dia em que, acendendo um cigarro após encher o quadro de fórmulas, o meu professor de cálculo disse que todos temiam discutir com o filósofo e este não temia discutir com ninguém. A exceção, acrescentou com orgulho, era o matemático, cujo raciocínio lógico era tão impecável quanto o dele.
Os matemáticos não mudaram muito. Tampouco os engenheiros, que estudam um pouco de matemática. Proliferaram os programadores e similares, que também precisam de lógica. Mas o raciocínio dos filósofos... quanta diferença!
Conforme a esquerda foi tomando as humanas e afastando os que não compartilham de seu credo, este se tornou mais importante que o conhecimento e passaram a surgir "filósofos" que seriam reprovados num teste lógico para estagiários de programação.
Não que isso incomodasse o novo filósofo (ou sociólogo, ou similar). Convivendo apenas com membros da seita, ele podia defender os direitos humanos num dia e a revolução cubana no outro sem que ninguém lhe esfregasse na cara suas contradições.
A Internet mudou um pouco esse quadro. Não havia como evitá-la e os inimigos andavam livremente por lá. De vez em quando um deles convocava os colegas a entrar mais nas redes para combatê-los. Mas e o receio de ser desmoralizado por quem diziam entre si lhes ser inferior?
Como o garoto que vive oprimido porque teme apanhar do fortão na rua, eles precisavam trancar as portas de seus sites, espiar pelas frestas para ver quem estava na reunião antes de entrar na sala. Ou, se as precauções falhassem e o encontro acontecesse, seguir o exemplo da filósofa Tiburi e fugir o mais rapidamente possível do opressor.
É claro que nem todos são fracos como ela. E os melhores entre eles ainda utilizam truques que permitem disfarçar suas eventuais deficiências. Uma artimanha básica é encher linguiça. Outra é recheá-la com palavras exóticas, às vezes criadas a propósito. Uma das preferidas inclui as citações pela metade.
"Nesse tema eu fico com o que Fulano disse de Sicrano em seu livro sobre Beltrano" não permite que o outro conteste a ideia que ali estaria sem ter lido a obra e pode transmitir - esse é o objetivo - a impressão de que ele é um ignorante cuja opinião nada vale. O truque muitas vezes funciona.
Com Olavo não funcionava. O malandro corria o risco de ver o velho dar uma pequena aula sobre Fulano ou Beltrano antes de voltar ao tema em pauta para arrasá-lo sem piedade e com alguns palavrões. Olavo era o chefe da gang dos fortões, o opressor dos opressores, e ainda chamava os mais fortes entre eles para brigar.
Estes recusavam fingindo superioridade. Mas sabiam no íntimo que era só medo de apanhar. E os que os tinham como grandes pensadores também sentiam isso e sofriam por eles. Ele os oprimia, os sufocava, eu percebi ao acompanhar ontem suas reações.
Você teria alguma grande descarga emocional se um "intelectual" da esquerda se fosse? Por que haveria de ter? Se eles achassem mesmo que Olavo era só um astrólogo idiota, pensassem dele o que pensamos da Tiburi, por que se preocupariam com ele? Por que festejariam sua morte?
Sim, eles a festejaram. E com urros de alívio, como uma libertação. Pareciam o sequestrado chutando o cadáver do sequestrador, o perseguido comemorando a derrubada do tirano. Ele vivia em suas mentes, atormentando-os com sua superioridade intelectual e o fato de quase sempre ter, como diz o slogan, razão.
A família deve ter melhores opções, mas um epitáfio para o Olavo poderia ser: "Sem nenhuma arma além do pensamento, oprimiu os medíocres maldosos como ninguém."
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