terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Agora sem aflições

Como todos já devem saber, Olavo de Carvalho morreu horas atrás na Virgínia, onde residia desde que saiu do Brasil. Tinha 74 anos, que é pouco pelos padrões atuais, mas estava com problemas de saúde desde o ano passado e creio, pelo habitual cigarrinho e outras coisas, que não era do tipo que se cuida quando necessário.

Não deixa herdeiros, ninguém seria capaz de assumir um papel semelhante, enfrentando, de peito aberto e sem apoio significativo, a confraria esquerdista que nas últimas décadas dominou nossa universidade e nossa imprensa, abastardo-as de modo quase inacreditável ao submetê-las antes de tudo aos seus interesses políticos.

Para os membros dessa ordem, sua morte é um alívio. Nunca mais eles terão que inventar desculpas para evitar debates abertos com o "astrólogo", como muitas vezes o chamavam para tentar minimizar o desconforto que lhes causava esse estranho que insistia em permanecer sem licença em seu ninho.

Sem condições de enfrentá-lo, tentaram expulsá-lo. Em determinada época, por pressões dos confrades que teriam incluído um "ou ele ou eu" de Luiz Fernando Veríssimo na Zero Hora, Olavo foi perdendo os espaços que tinha nos grandes jornais brasileiros, dos quais retirava obviamente seu sustento.

Manteve porém um cantinho ao qual não é dada a devida importância. A Associação Comercial de São Paulo publicava (deve publicar ainda) o Jornal do Comércio, que era pequeno, ideal para ler rapidamente no tempo em que se lia jornais, e não se limitava às chatices econômicas comuns aos distribuídos para empresas.

Na ocasião dirigida pelo Afif, a ACSP passou a publicar longos artigos de Olavo no JC, o que disseminou suas ideias entre o empresariado paulista de um modo difícil de medir. Numa época em que o Foro de São Paulo era um tema proibido na grande imprensa, por exemplo, você podia acabar conversando sobre ele numa reunião com um cliente.

Mas o espaço alternativo no qual o professor reinou foi a Internet. Não sei se há, no mundo inteiro, alguém do seu nível intelectual que tenha se projetado tanto através da rede quanto ele. Se tentaram expulsá-lo de onde merecia estar, dali ele se projetou até se infiltrar nos domínios que pensavam ser exclusivamente seus.

Não vou entrar no mérito de sua obra, até porque não não me sinto qualificado para julgar grande parte dela. Mas ela sem dúvida foge da vulgaridade e da mesmice que hoje nos dominam. E creio que mesmo que não estivéssemos em uma situação tão degradada ela se destacaria, seria autêntica, única.

Olavo de Carvalho deixou sua marca. No fim das contas, o que se pode almejar além disso?


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