sábado, 22 de janeiro de 2022

Manda ao menos um telegrama, Durov

Primeiro foi ao Butão, único país do mundo com voto totalmente inauditável como o nosso. Agora querem nos igualar a portentos democráticos como Cuba, China, Azerbaijão, Bahrein, Belarus, Indonésia, Irã, Paquistão e Tailândia, que já tentaram bloquear o Telegram em algum momento.

Tentaram, nenhum conseguiu totalmente. A própria Rússia - terra natal de Pavel Durov, fundador do serviço hoje sediado em Dubai - o proibiu em 2018, mas revogou a medida dois anos depois porque só estava passando vergonha. O Telegram não é o WhatsApp.

O Telegram, como explicado pelo Jack nos comentários de ontem, possui uma opção de proxy que permite acessá-lo através de um caminho alternativo. E, se este for bloqueado, de outro. E de outro... Mesmo países com rígidos controles da Internet, como a China, só conseguiram diminuir seu uso com ameaças aos seus usuários.

Mas aos donos do serviço não conseguem ameaçar. Eles não têm diretores que possam ser presos nos países em que atuam, não tem sedes espalhadas pelo mundo, faturamentos que possam ser confiscados ou nada parecido. Se você quiser processar o Durov terá que se acertar com a justiça dos Emirados Árabes Unidos.

Os fantásticos programadores do TSE deviam ter contado isso ao Barroso, que, com a petulância de sempre, teria enviado correspondências oficiais ao Durov, exigindo-lhe que tomasse providências para se adaptar à nossa legislação eleitoral.

Nem um "não" obteve, foi solenemente ignorado. Depois da Interpol não dar a mínima para o pedido de prisão do Allan dos Santos e ficar claro que a justiça americana não iria extraditar ninguém por expor sua opinião, essa foi a melhor resposta que os censores ora instalados nos nossos tribunais receberam.

Não que eu seja contra a censura, não sou um desses extremistas que acham que as pessoas devem ter o direito de dizer o que bem entenderem sem punição. Só acho que eu é que devo decidir quem será censurado na minha área, o Zé na dele e assim por diante. Ninguém precisa que um boboca vaidoso lhe diga o que é certo ou errado.

Eu instalei o Telegram há algum tempo e quase nunca o usei, mas tenho certeza de que o aplicativo me permite bloquear quem eu não quiser. Também estou certo de que, com a vaidade ferida, o missivista sem resposta deve ter perdido algumas horas de sono pensando em como se vingar.

Creio que ele e seus colegas não tentarão proibir o Telegram desde já porque as pessoas passariam a trocar informações sobre como driblar a censura e o efeito seria oposto ao que desejam. Penso que o proibirão mais perto da eleição, quando o tempo para as informações necessárias circularem em grande escala será muito menor.

Ou não. Num mundo em que tantas coisas viralizam, acessar o Telegram através de um proxy pode ser uma delas. Nesse caso, sempre existe o risco da censura se voltar contra os que querem praticá-la. E se estes pensarem assim talvez prefiram engolir o orgulho ferido e deixar tudo quieto para não levar água para o moinho do Durov, muito menor até hoje que o do colaborativo WhatsApp.

De qualquer modo, nossos tiranetes estão frente a um dilema. E sempre que isso acontece há motivo, ainda que pequeno, para comemorar.

Dois dilemas, para um deles. Esse russo malvado não responde, não dá um telefonema, não manda uma carta.

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