domingo, 5 de dezembro de 2021

Michelle dá seu pulinhos

"Os tataravôs da ciência política diziam que, quando um grupo social, em geral emergente, se considera pouco representado ou poderoso, abandona a coalizão em que se abrigava e cria um novo partido, no sentido amplo do termo. É o caso dos 'evangélicos', mas também da agrolândia ou do sertanejistão ou dos militares reemergentes."

De vez em quando eles conseguem ver além da bolha. As palavras acima são do foicista Vinicius Torre Freire, que lamenta que os grupos que estão se movimentando politicamente sejam estes e não os que deveriam estar nas ruas lutando contra a fome (que sabemos a quem um fiquemcasista como ele atribui) e outras pautas econômicas.

Eu diria que ele está mais chateado é porque o mundo que lhe parece estar terminando também era aquele em que um colunista da Folha de SP tinha sua opinião levada em conta, podia impor seus costumes progressistas à sociedade e coisa e tal. Sua mágoa também é cultural, a economia só entra como desculpa.

Haveria muito mais para dizer sobre isso, mas vamos aqui nos limitar a perguntar quem, dentre os atuais candidatos à presidência tem mais cara de evangélico, agrolandês e militar. Quem será? Quem será? O Vinicius deve ter feito a pergunta a si mesmo e não gostado da resposta.

Tanto é verdade que a foto que ilustra seu artigo é a mesma aí de cima, na qual, entre evangélicos em festa, a primeira-dama abraça André Mendonça após sua aprovação para o STF. Vinicius não foi o único esquerdista a se horrorizar com essa comemoração, mais comentada pelo vídeo abaixo (clique sobre a imagem).

E eles têm razão para isso. Os evangélicos se destacam dentre os grupos citados por seu tamanho (33% da população na conta da maioria, 40% na do novo ministro) e por continuarem fora do seu alcance político. Eles tentam, mas seus líderes estão atualmente fechados com Bolsonaro.

Os motivos nós não precisamos dizer quais são, todos os repetem. Mas um deles, geralmente desprezado, é a própria Michelle. Se há um trabalho político a que ela se dedica este é o realizado sobre esse segmento.

Bolsonaro pode ser melhor que Manuela e Haddad na missa e o restante dos políticos que tenta fazer algo parecido, mas é um religioso fake. Você percebe isso e o sujeito da igreja também. Mas Michelle não é. E ela aproxima, creio que muito mais do que imaginamos, esse público do presidente.

Pelo que eu sei, toda hora ela está recebendo amigos evangélicos (e amigos dos amigos) no palácio, de maneira informal. Uma coisa é ver o presidente discursando na igreja, outra é tomar café na cozinha da primeira-dama e verificar que ela é como qualquer outra irmã de fé que você conhece. Dá para imaginar como esses relatos correm por aí.

Eles podem achar os pulinhos ridículos e o que mais quiserem. Mas a verdade é que estes são muito mais poderosos do que parecem e nenhum deles tem alguém com credibilidade para dá-los. Deixe que eles falem. Continue pulando, Michelle.

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