Apresentadas em Eu, robô, coletânea de contos de Isaac Asimov publicada pela primeira vez como livro em 1950, as Três Leis da Robótica criaram também uma moda numérica que até este blog acabou seguindo ao definir, setenta anos depois, as leis das denúncias de corrupção contra o governo Bolsonaro. São estas:
1 - O valor é pequeno.
2 - O acusado é um familiar.
3 - O período é anterior ao mandato presidencial.
Às vezes o pessoal tenta escapar de uma dessas leis omitindo o período dos fatos (3), citando apenas o sobrenome do envolvido (2) ou, mais frequentemente, somando valores ao longo de vários anos para criar manchetes escandalosas como "Fulano retirou mais de um milhão em dinheiro vivo" (3).
Os humanos mais idiotas caem direitinho e passam a repetir o comando mecanicamente por aí. Mas os verdadeiros mecanismos já ultrapassaram esse nível de inteligência primário. Qualquer programinha é capaz de dividir o milhão pelo tempo em questão e mostrar que a quantia obtida é a que um sujeito de classe média movimenta por mês.
Não pense, no entanto, que isso significa que os autômatos estão prestes a nos dominar. Se você quiser saber quais são as três leis do Asimov basta digitar a pergunta no computador. Mas quando se trata de questões mais complexas o Google é tão imbecil quanto quem não vai votar no Bolsonaro porque seu governo é corrupto.
Tente perguntar, por exemplo, por que a imprensa opositora usa desses expedientes ao invés de denunciar um desvio de bilhões comandado pelo presidente. Você, ser humano normal, logo intui que é porque este último não existe. E, avançando só mais um pouquinho, conclui que esse tipo de coisa acaba por oferecer um atestado de idoneidade ao governo mais fiscalizado e atacado da história recente.
A máquina ainda tem dificuldade para chegar a essa compreensão, continuamos longe dos robôs imaginados por Asimov. Calcule então o cérebro humano mais primitivo que ela já ultrapassou. Esse não tem jeito. Limitado a sinapses grosseiras, basta-lhe ver Bolsonaro e corrupção na mesma frase para associar um ao outro pela eternidade.
É a estes que a imprensa desonesta se dirige.
Agora, para terminar, imagine se esse público começasse a se perguntar por que ela faz isso. Seria para igualar o futuro candidato à reeleição a um verdadeiro corrupto e assim favorecer o segundo? Ou seu objetivo seria aplainar o caminho para que um terceiro pudesse depois se apresentar como o único que não é ladrão?
E por que essa mesma imprensa preferiria o segundo ou o terceiro? Será que é por causa dos bilhões que um sempre lhe deu e outro nunca promete lhe negar? Embora formalmente legal, não seria esse desperdício de dinheiro público um tipo de corrupção que prejudica igualmente a saúde, a educação e o que mais seja importante?
Tá bom, tá bom, vamos parar. Esses mecanismos mais simplórios são muito sensíveis a nuances e nós não queremos sobrecarregar os circuitos de ninguém.
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