Como o relógio quebrado ao longo do dia, a OMS acertou duas vezes. A primeira quando disse, como lembramos dias atrás, que não adiantava o Primeiro Mundo se vacinar cinquenta vezes se os vizinhos mais pobres não tivessem tomado vacina alguma. A segunda agora, ao se mostrar contrária aos passes de vacinação.
Da outra vez dá para entender porque ela não foi ouvida. O sujeito normal pensa assim: vou vacinar meu filho e deixá-lo livre da caxumba pelo resto da vida, não estou nem aí se o vizinho vai vacinar o dele ou não. E, pelo que se vendia, era só trocar caxumba por covid que o resto ficava igual.
Tempos depois é que se descobriu que "vacina" agora era outra coisa, um atenuante que diminui (ao menos temporariamente) a chance do "imunizado" transmitir a doença, pegá-la, adoecer ou morrer. Mas aí já era tarde, os europeus estavam vacinados e os africanos no barco clandestino continuavam sem saber o que era isso.
Agora não, todo mundo sabe que exigir passes é algo complicado sob vários aspectos. Para começo de conversa você precisa obrigar a pessoa a tirar o documento, fiscalizar a sua posse e fiscalizar a fiscalização. Imagine se o dono do bar vai mandar cliente embora por falta dele. Imagine exigi-lo para quem vai tomar o trem das seis.
É uma burocracia idiota que sempre vai furar, ainda mais num país como o Brasil. E o mesmo vale para a exigência de passaporte de vacinação para quem vier do exterior. Você pode fiscalizar uma parcela que segue as normas e viaja de avião, mas qualquer um passa pelas nossas porosas fronteiras como bem entender.
É mais um faz-de-conta, um teatro da turminha que quer "salvar o planeta" e coisas do tipo. Não por acaso, o Docinho já anuncia que exigirá o passaporte nos domínios que obteve ao se grudar nas bolas do presidente se este não o exigir em todo o país. Se não é possível controlar as fronteiras nacionais, calcule se o traíra conseguiria fazer melhor em termos estaduais.
O outro problema é o autoritarismo, que começa pela tentativa de obrigar que não quer vacinar-se a fazê-lo. Já se discute abertamente a vacinação obrigatória (com algo que não funciona a contento!) e o passe ainda não é isso, mas vai nesse caminho, preparando o terreno para a solução final.
Aliás, onde fica nessa história o "meu corpo, minhas regras"? É curioso que aqueles que invocam isso quando se trata objetivamente de outro corpo e de uma vida específica sejam frequentemente os mesmos que defendem a vacinação obrigatória em função de um direito à vida extremamente difuso e hipotético.
E o pior é que tudo isso se insere numa onda autoritária que vai muito mais longe. A censura das redes está aí, a nível mundial. Nosso STF aparelhado pelo petismo se dedica a soltar quem rouba e prender quem reclama. Muitos dos que conseguiram prender ou soltar toda a população em função da covid agora não querem perder esse poder. Exigir passes e passaportes só auxilia essa perigosa tendência.
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