quarta-feira, 7 de maio de 2025

Golpe de mestre

Na vida real e no cinema, não há quem não admire aqueles casos em que um grupo bola um esquema inteligentíssimo para roubar um banco ou uma obra de arte cuja segurança se julgava perfeita. Claro que quando a gente é sócio do banco não parece assim tão legal, mas não é por isso que nós vamos negar o talento dos criminosos.

O começo foi modesto, um dinheirinho surrupiado da gaveta do sindicato, a grana dos patrões para dizer à categoria que obteve o maior aumento possível. Coisas pequenas. Até que veio a política partidária e, um dia, o acesso ao cargo máximo.

O Mensalão foi um choque. Todos pensavam em desvio do dinheiro público e compra de parlamentares como coisas isoladas, pontuais. Agora eram partidos inteiros e valores fixos todo mês. Ninguém antes imaginava uma malandragem com aquela dimensão. Nem valores na ordem de centenas de milhões.

Na segunda vez, o país estava atento para aquilo não se repetir. Mas foi como num truque de mágica, enquanto todos olhavam para um lado eles do outro davam andamento ao Petrolão, que era ainda mais organizado que o esquema anterior e movimentou dezenas de bilhões.

Com o país prevenido contra esquemas com políticos e grandes empresários, parecia impossível que algo acontecesse no terceiro governo. Porém eles mais uma vez driblaram a marcação e atacaram na outra ponta, surrupiando a graninha de aposentados e analfabetos. E levantando o dobro do Petrolão!

Mas espere que o melhor está por vir. Esse é um daqueles filmes em que os ladrões saem com o cofre e a polícia corre atrás, mas é aí que os outros ladrões entram e pegam o que realmente queriam. 

O roubo do Aposentadão ainda não aconteceu, VAI ACONTECER AGORA. O chefe vai sumir com 90 bilhões do dinheiro público a título de ressarcimento dos pobres velhinhos enganados. À luz do dia, à vista de todos, anunciando previamente o que fará. E não lhe acontecerá absolutamente nada. 

É coisa de gênio, não tem como não admirar.

E não se surpreenda se o plano tiver uma terceira fase em que aposentados fantasmas serão indenizados, com milhões para cada um, por "erro do sistema". Acontece, você sabe.

Epílogo

No finzinho vai ter aquela parte teatral em que eles dizem que recuperarão o valor do ressarcimento obrigando os freis chicos a devolverem o que surrupiaram. Mas esse dinheiro já foi diluído mundo afora e ninguém acredita que se possa encontrar mais que um pequeno percentual dele.

Talvez alguns operadores acabem sendo julgados pelo STF, onde serão absolvidos por decurso de prazo ou falta de provas conclusivas. "Quem garante que os aposentados não queriam em seu íntimo ser descontados?", indagará um ministro em seu voto de 52 páginas. "Não podemos cometer injustiças", ele próprio responderá. 

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