domingo, 18 de maio de 2025

Demografia em movimento

Diz a lenda que o inventor do xadrez (e da progressão geométrica) pediu como recompensa um grão de trigo para a primeira casa do tabuleiro, dois para a segunda, quatro para a terceira e assim sucessivamente até a 64ª. O que parece muito pouco no início, mas acaba exigindo todo o trigo do mundo e mais um pouco no final.

Calcule agora o inverso em relação à população. Se cada casal tiver apenas um filho, uma população como a da China, de aproximadamente 1,5 bilhão de pessoas, cairá para 750 milhões em cerca de trinta anos (o tempo de uma geração) e para 375 milhões antes de 2100.

Na vida real não será bem assim porque, entre outros fatores, o PC agora incentiva as pessoas a terem mais filhos. Mas a política do filho único foi iniciada em 1979 e hoje já existem filhos únicos de pais que também o são, pessoas acostumadas às vantagens de não ter vários filhos para criar e satisfeitas com essa situação.

No frigir dos ovos, estima-se que o país chegará ao final do século com uma população sensivelmente menor, de 500 milhões de pessoas ou um pouco mais. E com uma proporção enorme de idosos, o que já está se tornando um problema grave para o partidão resolver.

A questão envolve o próprio poderia do país, em parte relacionado à sua população. Para dar uma ideia desse desbalanceamento, com uma média de 2,1 filhos por mulher (considerada ideal para manter uma população estável), a vizinha e rival Índia deve chegar a 2100 com o mesmo 1,5 bilhão de pessoas que abriga agora.

Quem também pode manter os níveis atuais são os EUA, hoje com 340 milhões de pessoas. O seu índice está em 1,7 filhos por mulher, mas como muitos estrangeiros querem ir para lá o país pode se dar ao luxo de escolher entre diminuir, manter ou aumentar a população conforme se abra mais ou menos para a imigração.

O mesmo vale para a Europa em geral, mas neste caso a abertura para imigrantes é mais complexa porque tende a gerar mudanças culturais mais dramáticas. Países como Portugal, Espanha ainda podem, se quiserem, atenuar o problema se abrindo apenas para habitantes de suas antigas colônias americanas. Mas os que estão mais ao norte não têm a mesma possibilidade.  

Já a Rússia sofre com a baixa fertilidade (1,6 filhos por mulher) e a emigração, pois há mais gente querendo sair de lá do que entrar. Assim, é possível que o país passe dos atuais 150 milhões de habitantes para cerca da metade em 2100. 

No Brasil a média de filhos por mulher é quase idêntica à americana. Como a expectativa de vida ainda está aumentando é possível que nossa população atinja um máximo de 240 milhões enquanto muitos de nós estiverem por aqui, nas próximas décadas. Mas quando nós formos embora não haverá reposição equivalente, estimando-se que o país chegue a 2100 com cerca de 170 milhões de pessoas.

Onde a população cresce e deve continuar crescendo é na África, que deve passar do 1,4 bilhão de hoje para nada menos que 3,8 bilhões em 2100. É graças aos africanos que a humanidade ainda pode aumentar e chegar a um total de 10 bilhões de pessoas ou um pouco mais no final do século. Mas depois deve diminuir de qualquer jeito.

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