Se você não fizer as perguntas certas nunca terá as respostas certas. Em termos de pesquisas de opinião, isso significa que não é necessária nenhuma fraude aberta para que elas digam o que lhe interessa, basta fazer perguntas que induzam o entrevistado a lhe dar as respostas desejadas.
Foi o que aconteceu com as pesquisas realizadas logo após as ruas mostrarem a vantagem dos defensores da anistia aos manifestantes do 8/1. Na mesma avenida, os adeptos da tortura de inocentes reuniram 3 mil pessoas enquanto, dias depois, os que queriam sua liberdade passaram dos 100 mil (300 mil na conta da PM).
O impacto sobre os deputados foi imediato. Sempre atentos ao sentimento do povo, vários deles correram para apoiar a urgência do projeto. Foi então que, numa última cartada para tentar vender a falsa ideia de que o brasileiro normal é um psicopata que torce contra a anistia, o Consórcio lançou suas pesquisas. Com as perguntas erradas.
Uma delas indagava se quem invadiu/depredou prédios públicos deve ser inocentado (anistiado); e a maioria respondeu que não, pois quem comete um erro deve pagar por ele. Outra indagava se a pena dada ao pessoal do 8/1 era excessiva; e a maioria respondeu que sim, pois nem assassinos são condenados a tanto por aqui.
Como na prática a atual anistia envolve uma comutação da pena, você deveria somar os dois "sim" para saber quem está a seu favor. Mas os jornalões se fixaram no primeiro deles para dizer que a maioria do povo se opunha à medida.
Perguntas certas
Realizada há poucos dias, a enquete da Paraná faz as perguntas certas e obtém as respostas certas. Assim, inquiridos sobre a condenação da moça do batom a 14 anos de prisão, 25,7% a consideram justa e 70,8% injusta.
E as demais pessoas presas há mais de dois anos? Para 31,8% isso é pouco e elas deveriam passar mais 15 anos na cadeia. Mas 32,8% pensam que elas devem soltas e 29,1% acham que elas nem deveriam ter sido presas, pois em protestos anteriores ninguém o foi.
27,5% acreditam que o 8/1 foi mesmo uma tentativa de golpe. Mas 35,9% o tratam como uma revolta contra o resultado oficial da eleição e 25,9% como nada mais que baderna e depredação.
Conclusões
Pela proximidade entre os percentuais, parece claro que a recusa à anistia se concentra naquela minoria de irrecuperáveis para quem o desgoverno é bom, o trabalho do STF é excelente e assim por diante. Ou seja, apesar de todo o esforço do Consórcio, eles só convenceram o seu gado previamente convencido.
Isso explica por que o STF agora está correndo para criar uma lei que permita libertar os "golpistas" mantendo a fantasia do "golpe". Eles precisam dela para condenar os "mandantes do golpe", aqueles caras ardilosos que enviaram a Débora e seus amigos para Brasília sem deixar nenhuma pista de suas ações.
E os vinte e pouco por cento vão acreditar que essa articulação maligna realmente existiu. Você não consegue ver nada, mas se as "autoridades" dizem deve ser verdade.
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