Embora só suas versões impressas tenham, na média, mais assinantes do que as eletrônicas dos congêneres brasileiros, os grandes jornais norte-americanos estão preocupados como uma questão óbvia: num futuro próximo, quem continuará a pagar para ler notícias que já viu gratuitamente na internet?
A primeira resposta é o assinante eletrônico, que paga um valor menor para, além das notícias básicas, ter acesso à opinião de colunistas que respeita e a toda a gama de informações acessórias oferecidas por um jornal tradicional. O New York Times tem hoje mais de 10 milhões de assinantes, a grande maioria digitais.
O problema é que essa solução pode ser provisória. Alguém pode copiar o artigo de um colunista e publicá-lo no X, o leitor pode desativar o bloqueio para não assinantes em seu computador etc. E talvez as pessoas continuem pagando uma assinatura por respeito ao trabalho alheio - estamos falando dos EUA, não do Brasil - mas essa posição é muito frágil numa época de rápidas mudanças tecnológicas e comportamentais.
Considerando esse cenário, um recente estudo prevê que os jornais acabarão abandonando a pretensão à objetividade e imparcialidade da era pré-internet e voltando à época em que cada um tinha um lado definido. No início um era republicano, outro monarquista, um escravagista, outro abolicionista... E assim voltará a ser.
Mas isso não impedirá que o leitor acesse seu conteúdo via internet. A questão permanece: por que ele irá pagar pelo que pode ler de graça? E a resposta é que ele não pagará para ler, mas para que as ideias com as quais concorda sejam difundidas e lidas por outros.
Isso já é assim nos nossos blogs e portais. As pessoas contribuem com o Ancapsu ou o DCM, que podem acessar sem custo, para que eles sobrevivam e possam continuar espalhando sua mensagem. O mesmo vale para veículos como a Gazeta do Povo e a Revista Oeste, que se adaptaram bem à internet ou nasceram dentro dela. E o exemplo negativo é o Antagonista, que foi abandonado por seus assinantes antipetistas ao tentar prejudicar o adversário do PT nas últimas eleições.
Nossos jornalões estão num estágio muito inferior ao dos americanos. Sua atual expectativa é vender algumas centenas de milhares de assinaturas a 1,99 e vender os dados dos assinantes para campanhas publicitárias. O que eles farão se o estudo for válido para o Brasil e tiverem que assumir posições políticas sem subterfúgios?
Tomemos o Ex-tadão. Até pouco tempo ele seria visto como antipetista, defensor da liberdade contra a censura e coisa e tal. Mas quando Bolsonaro encarnou o antipetismo o jornal mudou radicalmente de lado, assinou cartinha, chamou as velhinhas de golpistas, apoiou os desmandos do STF e defendeu a aprovação do PL da Censura.
Agora há ocasiões em que ele ameaça voltar ao antigo leito. Mas é tarde demais, a confiança perdida não será recuperada após a traição. E se ele for para a esquerda será ainda pior, pois os petistas não reconhecem o que ele fez pelo partido em 2022 e continuam a vê-lo como inimigo. Adaptado verdadeiramente ao tucanismo, ele tende a definhar como este.
Desenvolvendo-se a situação como imaginado, restará para esse pessoal arrumar um padrinho capaz de pagar suas contas, seja este um ente privado ou governamental. Mas quem toparia bancar um jornal que pouca gente lê e quase ninguém mais leva a sério?
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