domingo, 9 de março de 2025

Do Rio ao mar

Os três se dirigiam à festa quando foram capturados pelos terroristas. Um não voltará, com certeza está morto. Libertados recentemente, seu primo e um amigo contaram que ele foi barbaramente torturado. Deceparam uma de suas orelhas, arrancaram-lhe dedos. Para horror dos horrores, obrigaram-no a comer a própria orelha.

Faixa de Gaza? Não, não, comunidade Palmeirinha, em Honório Gurgel, Zona Norte do Rio. Os terroristas são chamados de traficantes e o Hamas atende por Comando Vermelho. A vítima fatal é Fabrício Alves Monteiro, de 28 anos, apresentado pela imprensa como um turista brasiliense que se dirigia para uma festa de Carnaval.

A história já é comum. Sem conhecer bem a cidade, os três entraram numa área dominada pelo CV, foram detidos pelos seguranças do grupo e enviados para um "tribunal do tráfico". Considerados inocentes, o primo e o amigo foram libertados e ainda receberam 10 reais para a condução. Com Fabrício foi diferente.

O problema é que os argutos investigadores do CV não se contentaram com as explicações e mandaram os três mostrarem o conteúdo de seus celulares. E no de Fabrício havia uma foto em que ele está segurando um fuzil e usando uma bandeirola com a inscrição "Coronel do Muquiço TCP". 

TCP é Terceiro Comando Puro, inimigo do CV, e Coronel é o apelido de um dos chefes do TCP na favela do Muquiço. No dia seguinte, um carro incendiado foi deixado na Avenida Brasil, próximo ao Muquiço. O pessoal do IML ainda não confirmou, mas tudo indica que o corpo carbonizado em seu interior é o que restou de Fabrício.

Guevara

Um amigo tem um restaurante cujo antigo pizzaiolo era um perfeito bunda-mole, mas usava drogas e, devido aos frequentes contatos com o mundo do tráfico, de vez em quando se dizia do PCC. O sujeito até tatuou o 1533 que identifica o grupo. Era o único bandido com FGTS, brincava um de seus colegas.

A história do brasiliense encontrado no Rio com uma referência a um criminoso do Rio é mais estranha, mas é possível que, como dizem os amigos, Fabrício fosse um cara normal. Como os revolucionários que tomavam Toddynho e usavam boina e camiseta do Che, alguns idiotas de hoje acham maneiro mostrar proximidade com o crime. Esquecem que os traficantes levam tudo a sério e a brincadeira pode não acabar bem.

Rito 

A parte de arrancar dedos para obter confissão é um pouco mais pesada do que ameaçar prender a filha do interrogado. Mas os traficantes separaram bem as funções de policial e juiz. E só condenaram o suspeito com o qual foram encontradas provas concretas, que ele mesmo produziu. Aquele tribunal da terra do Fabrício que tanto os protege poderia aprender algumas coisinhas com eles.

Grupo terrorista

Sabendo que Trump ameaça tratar quadrilhas de traficantes estrangeiros como grupos terroristas, o governo do Rio estaria tentando incluir nossos "comandos" nessa classificação. Segundo vi por aí, a possibilidade horrorizou os especialistas da GloboNews, que temem uma interferência externa em nossa segurança. 

Mas qual é a grande diferença entre uns e outros? E, principalmente, que "segurança"?


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