Já que o Brasil está ganhando Oscar, resolvi me dedicar ao ramo e estou escrevendo o roteiro de um filme. Ele tem emoção, romance e sexo (inclusive gay, para facilitar a liberação de auxílio governamental), mas o que deve nos garantir outra estatueta são as intrigas da elite de um país fictício, que estão no centro de sua história.
Como o trabalho ainda está no início, um de seus problemas é definir o clima dos bastidores dessas tramas. Por exemplo, tem uma parte em que juízes da mais alta corte do país fictício participam de um jantar com líderes políticos que lhes fizeram algumas críticas e no dia seguinte passam a elogiá-los. Todo mundo entende que houve um acordo entre eles, mas como isso exatamente aconteceu?
Uma opção é dar à cena um ar mais classudo, mais sutil. Quando eles estão bebendo antes da comida ser servida, um juiz pergunta se o espumante do deputado está bem gelado como se só quisesse puxar assunto, mas logo encontra um jeito de dizer, em tom de brincadeira, que ele é que devia congelar suas críticas ao tribunal.
O primeiro juiz se afasta e, enquanto o deputado ainda está pensativo, o segundo passa por ali e para rapidamente para lhe dizer: "Olha, depois precisamos conversar sobre aquele processo em que estão te acusando de ter roubado uns milhões, você que os conhece precisa me dizer como é que a gente lida melhor com esses caluniadores."
Outra possibilidade é utilizar diálogos mais crus, diretos, tipo aqueles de reunião de famílias mafiosas: "Buono, Dom Marco, io mandei matar seu filho e você mandou matar o meu. Se a gente continuar vamos ficar sem herdeiro. Então io acho melhor a gente parar essa guerra no 1x1 e dividir direito o território pra todo mundo ficar contento."
Uma terceira alternativa é aproveitar o jantar para enfiar outra cena de sexo gay. Após pegar seu uísque com um garçom halterofilista de avental curtinho e shortinho enfiado na bunda, o deputado pergunta ao juiz qual será o prato principal. Ao que o magistrado responde com um sorriso maroto: "Eu, você, o que a gente quiser que seja."
Desconfio que transformar o jantar num bacanal gay não é a melhor solução artística, mas preciso fazer bem as contas porque isso certamente me daria direito a pedir um considerável aumento da verba para o que os petistas chamam de "apoio à temática homossexual".
Se bobear, só com essa grana extra eu posso pagar minha cobertura de frente pro mar. A parte ruim é que o pessoal de Hollywood anda dando uma de careta para não arrumar briga com o Trump e acabaria me negando o Oscar. Mas não se pode ter tudo na vida, não é mesmo?
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