terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Laranjânio

Comparam Trump com Bolsonaro, mas ele não deixa de ser meio parecido com o Jânio. Um se fazia de louco para se dar bem, o outro também se faz. Um enfrentava a oposição de forças ocultas, outro combate o deep state. Um mandava bilhetinhos manuscritos, outro manda recadinhos através do X. 

A diferença é que os bilhetes paravam no auxiliar da sala ao lado enquanto os recados via internet atingem amigos e inimigos no planeta inteiro. Mesmo agora, quando o Laranjão ainda nem assumiu.

Bastou um tuíte sobre as restrições que os produtos de seu país podem sofrer no mercado americano para a presidente do México concordar que eles devem controlar melhor a fronteira. Bastou mais um (e a nomeação do Musk) para os esquerdistas que ainda dominam a União Europeia pararem de falar em censura do X. 

Mais divertido foi o resultado do tuíte avisando o que os aguardava se os Brics decidissem não fazer mais negócios em dólar. China e Índia ficaram caladinhas, a África do Sul declarou que nunca havia levado a possibilidade a sério e a Rússia acrescentou que tudo não passava de uma ideia idiota do Molusco que passa as noites pensando nisso. 

O Maduro nem precisou de recado específico para sair dizendo que espera manter uma relação amigável com o novo governo americano e, dias depois, num aparente gesto de boa vontade, libertar muitas das pessoas presas durante as manifestações contra a fraude eleitoral, uma espécie de 8 de janeiro de lá.

Mais complicada é a situação dos meninos da cervejinha do Hamas. Avisados de que precisam devolver todos os reféns até o dia da posse de Trump se não quiserem ser alvo de uma demonstração inédita da mão pesada do poderio norte-americano, devem estar discutindo entre si o que fazer.  

"Não devolve ninguém, se os infiéis nos atacarem nós os derrotaremos", dizem os mais fanáticos. "Nós já estamos meio quebrados, melhor devolver", argumentam os mais práticos. "Mas pode ser pior pra nós porque aí todos vão saber como nós torturamos os reféns e matamos muitos deles", contestam os desconfiados. 

E assim eles seguem enquanto o tempo corre e janeiro se aproxima. Meu palpite é que os desconfiados se aliarão aos mais fanáticos e vencerão a discussão. E minha expectativa é que o Trump mostre que não estava blefando e dê uma resposta histórica aos terroristas, uma que talvez resolva de vez o problema da Faixa de Gaza.   

Resta saber o que ele fará em relação àquele país vizinho da Venezuela. Por enquanto os bilhetinhos para lá foram indiretos, enviados por auxiliares ou dirigidos a organismos internacionais que não cumprem o seu dever. O convite para o presidente deposto assistir à sua posse pode ser o primeiro recado direto. 

Pode ser ou não. Pode continuar ou não. Por enquanto é tudo possibilidade, mas acredito que alguma coisa o novo governo do Laranjânio deve realmente fazer. É óbvio que ele não vai limpar toda a sujeira por nós, mas se der umas boas vassouradas na parte mais imunda já estará bom. 

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