E não é que os petistas/esquerdistas tinham razão quando diziam que muito babaquinha que está muito longe de ser verdadeiramente rico tem ódio de pobre. Eles só esqueceram de explicar que conhecem bem o assunto porque os que mais desprezam a gentalha fazem parte de suas fileiras.
Evidentemente, não é qualquer miserável que os desagrada. Eles adoram o pobre que conhece o seu lugar de coadjuvante naquela encenação em que um dos seus desempenha o papel de líder destinado a minorar os sofrimentos dos coitadinhos. Minorar, não eliminar, porque se eliminasse não teria mais a quem salvar.
O pobre que eles detestam é aquele que a mulher faz doces que o filho vende na internet e o marido vai entregar de moto, que trabalha de motoboy para outros, que transforma a sala de casa em um ponto comercial, monta uma pequena oficina nos fundos ou qualquer outra coisa onde possa ganhar dinheiro.
Mas se até na mãe Cuba o governo permite que o súdito do regime monte um negocinho paralelo, qual é o problema de fazer o mesmo por aqui?
O problema é que o pobre de que estamos falando não quer mais depender do governo, quer progredir, quer seguir o exemplo de quem começou do nada e ficou milionário ou pelo menos passar do 2 para o 4, do 4 para o 8 e assim por diante, até onde der. Ele quer deixar de ser pobre! Por conta própria!!
Isso irrita o esquerdista que acredita que os pobres deveriam se limitar a votar em seus políticos em troca de benefícios coletivos como uns centavos a menos na tarifa do ônibus ou uma fila menor no posto de saúde. Pois se o cara se recusa a ser parte de um rebanho tangido por um político de esquerda, seu discurso cai no vazio.
Irritado, o esquerdola cria uma fantasia em que subir na pirâmide só vale a pena para quem chega ao topo e passa a dizer que esse "pobre de direita" (título do último livro do famigerado Jessé de Souza) é um iludido que nunca será milionário e precisa ser doutrinado. Veja o que diz Jessé em recente entrevista (íntegra aqui) a O Globo:
Sem dúvida. Passamos por um processo de idiotização das pessoas e de inação dos que deveriam fazer um trabalho de base de qualidade. Quando comecei a entrevistar, para o livro, há alguns anos, pessoas da periferia de São Paulo, me desesperei. O quadro já era o de "tá dominado" pela teologia da prosperidade, neoliberal e reacionária.
E não é só o Jessé. Sugiro que você leia "A revolução dos estúpidos", último artigo de Philipp Lichterbeck na DW Brasil (aqui). Falando sobre Pablo Marçal, ele conclui que "a próxima etapa de radicalização da nova direita vulgar é destruir 'o sistema' para dar aos frustrados de baixa instrução a ilusão de enriquecimento pessoal sem esforço".
Mas é como diz o Jessé, basta convencer o pobre de direita (idiota, estúpido e frustrado) de que essa coisa de subir na vida é para os outros e ele está errado ao se ver como um ser humano que tem um imenso potencial dentro de si. Depois é só filiá-lo a um movimento social e lhe ensinar a balançar bandeirinha como um orangotango.
Ou seja, precisamos falar com os pobres que hoje odiamos.
E com os evangélicos também, é claro.
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