Ela era presença constante em manchetes, reportagens, artigos assinados e programas de TV. Mas de repente, do dia para a noite, a "extrema direita" sumiu. Para a nossa imprensa agora existem a esquerda (que nunca foi extrema), a direita (que perdeu sua extremidade) e o centro (que subitamente apareceu).
O fenômeno aconteceu após a lavada que a esquerda tomou no primeiro turno das eleições municipais e evitou que a extrema direita fascista, taxista e bolsonarista fosse apresentada como a grande vencedora dessas disputas.
Quem venceu, explica-nos essa mesma imprensa, foi uma mescla de centro e direita centrada. Em termos de líderes políticos, os louros vão para gente como Kassab (um cara bacana, que negocia sem problemas com a esquerda) ou o governador Tarcísio (que é uma força independente, não mais o carioca levado ao cargo por Bolsonaro).
Aliás, falando em Bolsonaro, está certo que você o viu fazendo campanha em todo o país e seu partido foi o que mais cresceu. Mas é necessário lembrar que essas viagens não poderiam ter gerado efeito algum porque nunca existiram na imprensa a que nos referimos. E o partido é do Valdemar, um sujeito até meio parecido com o Kassab.
Na verdade, de acordo com as explicações que nossos jornalões se dedicam agora a oferecer, Bolsonaro foi, juntamente com Lule, um dos grandes derrotados dessas eleições. Antes eles diziam que elas seriam uma disputa entre ambos, mas o povo decidiu sacanear os dois de uma só vez.
Semanticamente, poderíamos até dizer que Lule perdeu menos que ele. Afinal a esquerda encolheu, mas a extrema direita fascista e bolsonarista sumiu. Talvez nem Bolsonaro seja mais bolsonarista, ele agora parece ser apenas de direita. E certamente não é dessa direita sojada que, juntamente com o centro, venceu as eleições.
Mas nos EUA...
Lá é o contrário, Trump, taxista e fascista, quer transformar o país numa ditadura religiosa radical. Mas falaram a mesma coisa da outra vez e ele não tentou nada parecido, alguém poderia argumentar. É que a primeira vez ele se fez de bonzinho para ter outra chance e fazer na segunda, explica o jornalismo precog de esquerda.
Nessa linha, a última Time noticia em tom escandaloso que ele vai contestar o resultado das eleições se não vencer. Como se os resultados não pudessem ser contestados. E como se outros nunca tivessem feito isso após perderem. Fizeram, claro, mas quando é o Laranjão a simples possibilidade se torna antidemocrática.
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