sexta-feira, 27 de setembro de 2024

Vício maldito

Depois de coibir o consumo de álcool e reduzir significativamente o hábito de fumar, nós fomos pegos de surpresa por esse vício maldito que agora assola o país. Mas afinal, o que leva alguém a adotá-lo, o que pensam aqueles que se deixaram dominar dessa forma? Nossa equipe foi a campo para perguntar:

- Seu Severino, desde quando o senhor vota no PT? E por quê?

- Ôxe, seu menino, voto desde novinho, desque tive direito. E o motivo é simples: eu sou pobre e o PT governa para os pobres.

- Mas hoje o senhor é um homem de meia idade. São mais de vinte anos dessa conversa e tudo continua na mesma. Se o PT fosse bom o senhor já deveria ter deixado a pobreza.

- Só que se eu deixar de ser pobre o PT não vai mais governar para mim e eu vou perder os benefícios que o partido me dá. Não posso permitir que isso aconteça.

- Mas, mas...

- Vem almoçar duma vez, Severino - gritou sua esposa da cozinha -, depois não reclame se a gordurinha da picanha endurecer ou a cervejinha esquentar.

- O senhor come picanha e toma cerveja num almoço normal?!

- Na verdade vai ser calango frito com Q-suco, mas a intenção da minha Raimunda era oferecer picanha com cerveja e o que conta é a intenção. O moço tá servido?

Recusamos o convite e saímos dali para falar com a doutora Nadir Eita, psiquiatra que estuda o fenômeno há algum tempo. Ela nos explicou:

- Trata-se de um círculo literalmente vicioso. Nós o chamamos de Síndrome de Lynch, intelectual britânico que primeiro a descreveu. O usuário sabe que melhorará de vida se deixar a dependência, mas receia que isso o leve a querer melhorar ainda mais e se torne rancoroso e frustrado nesse processo. Assim ele permanece em seu pequeno mundo, satisfazendo-se com a sensação de aparente felicidade que a droga lhe dá.

- Então é como se fossem duas montanhas separadas por um vale. Ele prefere estar no topo da montanha da pobreza a deixá-la e começar a escalar desde baixo a da riqueza?

- Você entendeu perfeitamente. Essa foi a imagem utilizada pelo próprio David Lynch, que chamou a síndrome que leva seu nome de Twin Peaks.

Incrível o que a droga faz com a mente humana! Porém não adianta reclamar, o negócio é evitar que as pessoas se viciem. Como se faz isso? Quem nos responde é o delegado Petis Tanaka Deia, que combate o tráfico com denodo:

- É difícil. Nós chegamos a prender o chefão por uma época, mas ele continuou a comandar o crime de sua cela e pouco depois foi libertado por amigos poderosos.

- E como o usuário tem o primeiro contato com esse mal?

- Muito cedo, geralmente na escola, onde as gangs de professores atuam livremente, oferecendo a droga em plena sala de aula, zombando dos alunos caretas que chamam de "pobres de direita", falando maravilhas dos países em que o vício é obrigatório etc. É um ambiente terrível, poucos resistem.

- O senhor vê alguma perspectiva de solução? O que vocês estão tentando fazer?

- A gente procura ao menos minimizar o problema. Nossa mais recente estratégia é colocar pipoqueiros na porta das escolas e oferecer pipoca grátis com propaganda a favor da liberdade de expressão dentro dos saquinhos. Vamos ver se funciona.

Nenhum comentário:

Postar um comentário