domingo, 4 de agosto de 2024

Mulheres em luta e outras boas intenções

Mulheres brigando fora das Olimpíadas? É só botar na novela, em que a convivência entre várias delas invariavelmente acaba em intrigas, disputas e até puxões de cabelo. Mas o que aconteceria de verdade numa empresa que só tivesse mulheres? Isso é o que conta Adriano Gianturco em seu artigo de hoje na Gazeta do Povo.

Samantha Brick tinha o emprego dos sonhos, mas sentia que tudo seria ainda melhor sem colegas homens. Deixou o emprego, refinanciou o apartamento e fundou uma empresa de produção televisiva composta só por mulheres. Em uma semana o time se dividiu em grupos (de quem usava maquiagem e quem não) que mal conversavam entre si. 

Havia comentários ácidos sobre a forma das outras se vestirem, o bronzeamento e a aparência física. Uma gerente não quis contratar a pessoa mais qualificada porque ela não conseguia distinguir entre duas marcas de roupa. Uma funcionária pegou o notebook de outra e não queria devolvê-lo; a chefe se recusou a intervir porque não queria ser a bad cop. Os comentários eram tão frequentes e malignos que acabavam em gritaria, palavrões e prantos. 

A fundadora escreveu um manual sobre como se comportar, mas não funcionou. Muitas faltavam, chegavam atrasadas ou iam embora antes da hora por causa de tratamentos de beleza, encontros românticos ou questões hormonais. Quando tinham reuniões com homens de outras empresas, as funcionárias entravam em uma competição de sensualidade.

As coisas mudaram quando dois diretores homens foram contratados temporariamente; o ambiente ficou mais calmo e o trabalho melhorou, em parte porque começaram os flertes; duas funcionárias tentaram seduzir um dos diretores, até que uma delas conseguiu. Em menos de dois anos, a empresa foi à bancarrota.

O tema geral do Adriano é uma variação do "quem lacra não lucra": Empresas criadas para serem "igualitárias", "inclusivas" ou coisa assim acabam quebrando a cara; e se a coisa não dá certo em pequena escala, não é em grande que vai dar. Mas ao invés de defender a tese, seu artigo coleciona exemplos. Veja os outros abaixo:

Em 2003, em Salt Lake City, a ONG One World Everybody Eats abriu uma cozinha comunitária no estilo "pague quanto quiser", sem menu fixo; os ingredientes vinham de doações. Ela fechou depois de anos de prejuízo.

Na rede de padarias Panera Bread os clientes também podiam pagar quanto quisessem, ou até não pagar se não tivessem dinheiro. Estudantes universitários com boas condições financeiras não pagavam nada e iam comer mais de uma vez por dia; moradores de rua passaram a comer ali; a empresa colocou seguranças e o custo aumentou. Em alguns anos tiveram de fechar, pois operavam com receita média 60% inferior aos custos.

O restaurante vegano e marxista Garden Diner tentou implementar um sistema sem chefes e gerentes, em que cada funcionário decidia o horário de trabalho e ganhava uma renda mínima igual para todos. As paredes tinham fotos de Che Guevara, Marx e Mao. Mas os funcionários mudavam constantemente o horário de abertura, havia longas filas e as gorjetas eram proibidas para que não criar remunerações diferentes. O restaurante fechou.

O britânico Calvin Belton abriu a empresa de consultoria psicológica Spill, com salários iguais e "decentes" para todos, independentemente de cargo, currículo e performance. Recebiam muitos candidatos a cargos menos qualificados, mas não conseguiam atrair programadores ou vendedores, acostumados a ganhar mais ou receber percentual sobre as vendas. Alguns trabalhavam mais ou tinham performances melhores que outros. Depois de um ano, Belton teve de rever suas ideias e pagar salários compatíveis com o mercado.


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