domingo, 18 de agosto de 2024

Do mundo não se leva nada

"... Vamos sorrir e cantar." A musiquinha grudenta, as expressões como o "a-aê", os gestos característicos, são (acho que todos) do tempo do Flávio Cavalcanti, do Jota Silvestre e do cheiro do televisor a válvula. TV brasileira sem Sílvio era como a Inglaterra sem rainha, quase ninguém conhecia.

Seu programa começou em 1963, quando a imensa maioria dos brasileiros só conhecia TV pela revista ou pelo cinema. Não só pelo preço, nessa época suportável para uma família de classe média, mas porque a TV não pegava em boa parte do país, não havia retransmissoras que levassem seu sinal muito longe.

Em 1955 o Brasil tinha cerca de 74 mil televisores, quase todos pertencentes a famílias bem de vida do Rio e São Paulo. O crescimento se deu durante a década de 60, mas, no final dela, o censo de 1970 encontrou apenas 4,5 milhões de lares com TV, pouco mais que um quarto do total de 17 milhões.

O "todo mundo" que viu a conquista do tricampeonato ao vivo naquele ano era de pessoas não muito pobres que residiam em cidades cuja população se contava em dezenas de milhares. A favela não estava cheia de antenas e metade dos "90 milhões em ação" ainda vivia no campo.

Era outro mundo, muita gente não sabia ler (50% dos campesinos com mais de 15 anos eram analfabetos), escrevia-se cartas, enviava-se telegramas, ligação interurbana precisava ser pedida para a telefonista. Nem fila de orelhão ainda existia, ele é de 1972, mesmo ano em que surgiu a TV a cores.

Dez anos depois do tri, em 1980, tínhamos 26,4 milhões de residências e 14,5 milhões (55% do total) delas possuíam aparelho de TV. E assim fomos indo. E o Sílvio Santos foi junto, mudando como o país, mas parecendo sempre igual, parecendo que sempre estaria ali. Agora não mais.

Vergonha alheia

Para não variar, vieram da esquerda as críticas rancorosas ao falecido. Os caras conseguiram falar mal do Pelé, por que não falariam do Sílvio? Destaque para a charge idiota do idiota Latuff no Esgotão. E para a divertida correção que os internautas tascaram na imbecilidade da ridícula Socialista Morena.

A beleza também não se leva

E o homem mais bonito do mundo também se foi. Aos 88 anos, morreu Alain Delon, que durante anos ostentou esse título sem contestação. Quem seria hoje seu sucessor? Muitos responderiam que Tom Cruise, mas eu já vi mulher dizendo que a beleza dele é meio de mocinha, não há unanimidade como havia com o francês.

Nada a lamentar, incomodado com os problemas trazidos pela velhice, Delon não pretendia prorrogar sua estada por aqui e já tinha cogitado até se submeter à eutanásia. Sua preocupação eram os impostos sobre a herança que deixou. Além de não se levar nada, o governo ainda fica com uma parte.


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