segunda-feira, 29 de julho de 2024

Papelito por papelito

Segundo a imagem da Telesur, uma espécie de Globo estatal cujos funcionários devem estar torcendo como os da emissora brasileira em 2022, só os cinco primeiros colocados na eleição venezuelana tiveram um total de 109,2% dos votos. Deve ser isso que aquele sujeito quis dizer quando falou em "democracia até demais".

Pode ser isso, pode ser outra coisa, o resultado será aquele que os membros do CNE (o TSE da Venezuela) bem entenderem. Como nunca é demais repetir, o modelo de ditadura bolivariana se baseia no domínio e na prostituição do sistema judiciário, inclusive da justiça eleitoral.

E desta vez o CNE está demais. O resultado divulgado pelo órgão contradiz o que opositores testemunharam nos centros de votação, onde foram convocados a permanecer por líderes oposicionistas como Maria Corina Machado - que seria candidata e venceria se não estivesse inelegível por outra pilantragem da (in)justiça eleitoral.

Para quem não sabe como funciona, o voto na Venezuela é impresso. Ao final da votação, num processo que deve ser aberto ao público, o pessoal de cada seção eleitoral conta os votos físicos para auditar o total dado pela urna e garantir que está tudo ok na ata enviada para a central onde é feita a soma geral. E depois os votos físicos de algumas seções escolhidas por sorteio ainda são recontados.

O sistema é simples, prático e difícil de fraudar sem deixar rastros (como poderia acontecer se o voto não fosse impresso, por exemplo). Por isso a fraude por lá é grosseira, envolve a intimidação de eleitores para impedi-los de votar ou acompanhar a apuração dos centros e o sumiço ou manipulação das atas.

A parcialidade do CNE está tão escancarada que, do Chile aos EUA, representantes de diversos países se manifestaram, exigindo que o resultado seja convenientemente auditado. O que, lembramos, é totalmente factível porque sempre é possível começar do zero e recontar os votos, papelito por papelito.

E agora?

Que desculpa os desonestos do TSE venezuelano darão? Dizer que todos devem confiar em sua palavra porque eles são autoridades só convencerá o gado mais idiotizado. Acredito que eles devem simular uma auditoria, sumindo com a maioria das atas e recontando os votos de seções escolhidas a dedo, onde Maduro venceu. Algo assim.

E o mais provável é que eles acabem levando apesar da fraude escandalosa. Os países que reclamaram continuarão reclamando, ameaçarão fazer isso ou aquilo... mas no fim deixarão para lá e a ditadura bolivariana seguirá no poder.

Por outro lado, se for obrigado a admitir a derrota, já sabemos como Maduro se comportará agora que, como disse nossa imprensa, virou bolsonarista. Ele não fará nada enquanto ainda controla as Forças Armadas e governa o país. Mas uma semana depois do novo presidente assumir ele tentará dar um golpe de Estado com velhinhas armadas com Bíblias e mamães que escrevem em estátuas com batom.

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