A sugestão do título é minha, a doença ainda não tem nome, mas é mundial e mais grave no Brasil. É o que diz, na Folha, Mariana Mandelli, "coordenadora de comunicação do Instituto Palavra Aberta", com base num relatório produzido anualmente pelo Instituto Reuters (haja instituto) com informações de 47 países.
O povo está evitando as notícias por considerá-las chatas, repetitivas e negativas. O problema afetava 29% da população em 2017 e passou a afetar 39% em 2024. No Brasil, informa Mariana, o desinteresse pelo noticiário explodiu mais recentemente, subindo de 41% em 2023 para 47% em 2024.
O resto do artigo trata dos segmentos mais afetados - jovens, mulheres e pessoas de baixa renda - e das possíveis soluções para o problema, que em geral envolvem a necessidade de "educar as pessoas" para a importância do jornalismo e forjar novas audiências com o auxílio da escola.
Essa é uma obsessão do instituto. Procurando, encontrei uma entrevista da sua presidente, Patrícia Blanco, no site da Fundação Tide Setúbal. Por aí já dá para saber do que se trata, ela fala em liberdade de opinião, mas quer coibir a "desinformação" dos influenciadores da internet, o pessoal "antivacina" e todo aquele cardápio.
Do seu blá-blá-blá destaco a menção a três jornalistas que estariam sendo atacadas pelos que "não entendem o papel do jornalismo": Miriam Leitão, Vera Magalhães e Patrícia Campos Mello. Coitadinhas, diz a Blanco, o pessoal não critica uma determinada opinião das moças, mas parece querer calá-las.
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Os dados da Mariana são estranhos, parecem misturar alhos com bugalhos. A média mundial de "fugitivos" era de 38% no relatório Reuters de 2022, talvez seja 39% agora. Mas no Brasil esse número já era de 54% naquele ano. Ele pode ter explodido de lá para cá, mas não de 41 para 47, deve ser mais.
De qualquer modo, faz sentido que grande parte das pessoas tenha se afastado de um "jornalismo profissional" que se tornou porta-voz do sistema PT-STF, fala a sério em golpe de velhinhas com Bíblia na mão, se cala sobre arbitrariedades ditatoriais e deturpa informações de maneira grosseira.
O que não tem lógica é a reclamação da Patrícia Blanco sobre as três amiguinhas. Elas não ganharam essa ojeriza de graça, de uma hora para outra. É justamente por entender o papel que o jornalismo deveria ter que o pessoal mete o pau em quem se apresenta como jornalista, mas se comporta reiteradamente como militante.
Quanto às influências da internet, é óbvio que ali cada um faz o que quer e existe muita coisa equivocada ou maliciosa. Mas que moral nosso "jornalismo profissional" tem para criticar alguém? A dificuldade de encontrar gente honesta é praticamente a mesma nos dois casos, com a internet levando a vantagem de ter mais opções.
Por fim, minha experiência doméstica com pessoas mais jovens indica que mesmo quem não entra nos sites da Folha e congêneres (como eu faço) está a par das principais notícias porque as recebe em grupos de amigos ou através de canais como o Ancapsu do gordão barbudo. Quem precisa dos velhos jornais?
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