Se o Chico Buarque está apoiando um lado, você pode torcer tranquilo pro outro. Mas o Chico também jogou muito futebol (amador, esclareçamos aos mais jovens), aquele esporte em que você sempre quer ganhar, mas, dependendo do chaveamento, às vezes é melhor empatar para pegar um caminho teoricamente mais tranquilo até as finais.
Torcendo para o time contrário ao do Chico, eu estava querendo que a direita confirmasse o desempenho do primeiro turno na França, mas ao mesmo tempo sabia que havia o risco dela ganhar e nomear o primeiro-ministro, tornando-se parte de um governo que ficaria engessado com Macron presidente e queimando-se com isso.
Essa possibilidade era calculada pelo próprio Macron. Assim, o que eu desejava mais racionalmente é que a direita fizesse um enorme número de deputados, mas não a maioria, reforçando a confortável posição de atirador de pedras e deixando o calculista se enrolar com o telhado mais envidraçado pelos aliados da extrema esquerda.
O número de deputados de direita não se tornou enorme, mas dobrou. E quem se deu bem na parceria entre Macron e a extrema esquerda foi esta última, que já quer até dar o cargo de primeiro-ministro para o alucinado e corrupto Mélenchon, uma espécie de Molusco francês. Veja como ficou:
Laranja é esquerda, amarelo é Macron, azul clarinho é a "direita antiga", azul é a atual, da Le Pen e do Bardella. O lógico seria realmente a NFP indicar o primeiro-ministro, mas o Macron pode tentar compor uma maioria com a LR e parte da própria NFP, pois ela é mesmo uma frente, um agrupamento de tendências.
O maior bloco dentro da NFP é o LFI do Mélenchon, um antissemita e apoiador do Hamas que, entre outras alucinações, quer abrir as fronteiras da França à imigração, coibir o "fascismo" da polícia e cobrar imposto de renda de até 100% (!) dos muito ricos. Essa turma fez cerca de 80 deputados.
O restante da NFP é composto por gente que já brigou com o próprio Mélenchon, como o Partido Socialista, que passou de 24 para uns 60 deputados, os verdes, que devem ficar com metade disso, e o Partido Comunista, que pode chegar a 10 deputados.
Macron pode tentar compor um governo à esquerda sem o Mélenchon, aliando-se a esse pessoal. Mas os que trairiam a frente que os elegeu teriam que aceitar ser mal vistos por seus eleitores. E com isso ele ganharia a oposição feroz dos 80 traídos da LFI.
Ele também pode tentar compor à direita com a LR, mas isso poderia fazer o eleitorado desse grupo aumentar a migração para a RN, que está progressivamente deixando as bazófias de lado e tende a engolir a antiga direita.
Ilhado entre tendências opostas, Macron não pode jogar nas duas pontas e terá que escolher antes que escolham por ele.
No fim das contas, parece difícil que o novo primeiro-ministro não seja alguém de esquerda ou com forte compromisso com ela. Assim, o melhor amiguinho do Molusco e a esquerda acabarão unidos, tendo em mãos as ferramentas para resolver os problemas que eles, no fundo, não querem resolver.
Para quem ficar na margem direita é só aguardar as próximas eleições.
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