sexta-feira, 26 de julho de 2024

Carta ao jornalismo sub-83

Inspirado pelo Chamil Jade, resolvi enviar uma carta a você, jornalista com QI abaixo da média nacional, que acredita no que escreve e, indignado com o fato do companheiro Maduro ter cometido um crime hediondo (falar a verdade), tentou provar que o sistema eleitoral brasileiro é auditável, mas acabou por demonstrar o contrário.

Você disse que o sistema é auditável porque cada urna emite um Boletim de Urna (BU), um papel disponível ao público que informa quantos votos cada candidato teve naquela urna. Se alguém somar todos os BUs na calculadora vai encontrar o mesmo resultado dado pela contagem oficial do TSE.

É verdade, é assim que se faz, compara-se o que o sistema da loja disse que ela vendeu com a soma das notinhas que ela emitiu. Somatório eletrônico de um lado, soma dos papeizinhos do outro, os dois números têm que bater.

Acontece que, para usar uma linguagem que você entende, o BU é um papel trans. Ele se identifica como papel, mas é só o somatório eletrônico da urna. E a pergunta é: onde estão os papeizinhos com os votos individuais daquela urna pra gente somar na mão e verificar se os dois números batem?

Esses papéis seriam os votos impressos, que não existem. Portanto, caro jornalista sub-83, o argumento que você usa para dizer que uma parte do processo é auditável revela que outra parte não o é. Ou seja, o processo como um todo não é auditável. E o Maduro não é bolsonarista.

Honestos e desonestos

O debatedor honesto reconhece uma objeção e tenta esclarecê-la. O desonesto sabe que está errado e tenta falar de outra coisa. Em que categoria se enquadra quem "esquece" do que acontece antes do BU? Ou o Barroso, ao dizer, em Londres, que negou o voto impresso porque o pessoal o queria para levar o voto para casa?

As auditorias ilusórias

Eles evitam falar da programação da urna, mas, quando obrigados, dizem que ela foi "auditada previamente" porque algumas poucas pessoas analisaram os milhões de códigos de seu programa por instantes. O problema é que, mesmo com mais tempo, é quase impossível descobrir uma alteração mínima como a que envolveria um só cargo.

Nós temos exemplos disso. Todos os sistemas de controle de lojas que emitem cupom fiscal precisam ser previamente analisados, com tempo, pelos técnicos das receitas estaduais. Mesmo assim, muitos dos sistemas homologados permitem a emissão de "meia nota" ou malandragens equivalentes, que os técnicos não conseguem pegar.

Além disso, nada garante que o sistema apresentado é o instalado nas 600 mil urnas do país. É possível que os programadores do TSE sejam honestíssimos e os cartões de programação saiam bonitinho de lá. Mas quem assegura que parte deles não é substituída depois, durante as etapas entre a saída do TSE e a chegada à urna?

Bastaria copiar o programa original e entregá-lo a outros programadores, que nem precisariam ser brasileiros. Depois seria só a malandragem de trocar os cartões. Não todos, alguns deles. Como disse o companheiro Flávio Dino, pode ser necessário falsificar apenas uma urna para roubar uma eleição apertada.

Não podemos saber se isso acontece ou não, pois não temos os papeizinhos para comparar com o somatório eletrônico. O sistema não é auditável. Estão enganando você e fazendo você enganar os outros, prezado jornalista sub-83.


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