De jornalistas que vivem em Nova York a estudiosos que nasceram nos EUA ou os observam de Londres, todos se espantam com o fenômeno. As estatísticas demonstram que economia vai bem (melhor do que esperado, alguns se arriscam a dizer) e os imigrantes ilegais não causam grandes problemas. Mas o pessoal pensa o contrário.
Culpa da imprensa sensacionalista que dá imerecido destaque a um ou outro crime cometido por um ilegal? Culpa da extrema direita que inunda as redes sociais com suas manipulações? Eles não conseguem atinar com a resposta, não entendem como o eleitor americano pode ter sua percepção distorcida desse modo.
Não é muito diferente na Europa. Semanas atrás, o presidente Macron deu uma longa entrevista, muito divulgada, em que abordou seu temor de que a civilização europeia abandone o alto nível que atingiu e regrida, afogado num mar de nacionalismos insuflado em todo o continente pela direita radical.
A percepção distorcida de lá é atribuída basicamente à exploração desonesta dos problemas, que nada têm de estatisticamente graves, causados pela imigração. Mas até os protegidos agricultores europeus estão caindo no canto da sereia, ninguém mais ouve a voz da razão, parece que a ultra direita enfeitiçou o pessoal.
Mas quem está mesmo enfeitiçado? Milhões e milhões de pessoas ou os que pensam que tudo se resume ao padrão de vida, a economia, o nacionalismo ou a imigração. Pode haver um pouco de tudo isso, mas acredito que o desconforto se deve a algo que essa minoria julga que ninguém questiona nesses países: a tal democracia.
A não ser em tribos primitivas, a democracia não é um sistema natural. Todos podem ir para uma ilha e começar iguais, mas assim que um grupo se destacar por seu poder militar ou econômico ele tentará se eternizar nessa posição e submeter os demais aos seus ditames.
Essa sim é uma tendência natural. E a democracia moderna nunca deixou de conviver com ela. Muitos europeus mantiveram seus reis e nobres, os ricos têm mais influência do que a classe média. Ninguém nega que há elites. E dentro dos limites adequados, estas podem ser até benéficas para o conjunto da sociedade.
O problema é que as elites de hoje parecem interconectadas globalmente e seriamente empenhadas em acabar com a democracia conforme a conhecemos, criando um sistema em que as verdadeiras decisões estariam a cargo de "conselhos de sábios" instalados na ONU, na Comunidade Europeia e até em supremas cortes.
Com dinheiro de sobra, esse pessoal compra/banca aficionados em vários setores. Inclusive entre políticos, jornalistas e estudiosos que, sentindo-se muito bem com o sistema que os beneficia, se recusam (inconscientemente em muitos casos) a ver seus problemas e tratam quem o ataca como um abduzido por forças irracionais.
A reação, que também está se tornando internacional, pode ser causada por um desconforto igualmente inconsciente em muitos casos. Mas ela tem motivos bastante racionais. Com a tecnologia atual, se a elite globalista não for brecada agora depois será tarde demais. Percepção distorcida é não ver essa ameaça.
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