domingo, 19 de maio de 2024

O enigmático copo de Coca

Eu não peguei a época em que o padrão da Coca-Cola eram aquelas garrafinhas que ultimamente voltaram a aparecer, de 180 ml. No meu tempo já eram as de 270 ml e, nas festivas ocasiões em que tinha refrigerante no almoço, as garrafonas de 760 e 1000 ml (Coca Família e Coca Litro).

Aí pelos anos 90 é que vieram as gigantes de 2 ou mais litros e o vidro foi substituído pelo plástico. Hoje em dia você abre uma Coca de 3 litros em qualquer refeição doméstica e quando o pessoal levanta da mesa é capaz dela já ter acabado. O que contém uma questão que me intrigava.

Antigamente, você parava no bar durante o passeio de verão e aquela garrafa de 270 durava. As grandes muito mais, uma Coca Família devia atender, já diz o nome, toda a família. O que mudou, os truques de marketing teriam feito as pessoas se adaptarem inconscientemente ao tamanho da embalagem? Ou o motivo seria outro?

Minha primeira resposta é que os adultos eram mais contidos, quem tomava refrigerante para valer no passado eram as crianças, para quem tudo é proporcionalmente maior. Mais tarde, conforme aquelas crianças foram crescendo sem largar o refri, o consumo foi naturalmente aumentando.

Só depois eu percebi que estava errado, o segredo não era a Coca, era o copo.

No tempo em que se desentortava prego e a propaganda da geleia de mocotó salientava a possibilidade da mamãe depois usar o copo, o copo mais comum nas residências era o chamado americano, aquele de 190 ml em que ainda se toma pingado na padaria ou pinga no boteco.

Tente encontrar um em casa, aposto que não será fácil. Eu encontrei dois, perdidos entre irmãos de vários modelos e muito maiores. E encontrei porque procurei, queria testar a ideia de que valia para a bebida a regra dos regimes de emagrecimento: coma em um prato menor e você se saciará com menos.

Separei os dois exemplares e passei a usar só o americano no âmbito doméstico. E não deu outra, enquanto o pessoal entorna copos com o dobro de capacidade eu me satisfaço com ele. Foi por aí que os marqueteiros/psicólogos nos fizeram consumir mais refrigerante. E, por tabela, engordaram a população.

Teoria testada e cientificamente comprovada. Leonardo da Vinci não faria melhor.

O copo é "americano" porque começou a ser fabricado com maquinário importado dos EUA pelo empresário Nadir Dias de Figueiredo, que o projetou em 1947. Embora próximo de um modelo que os americanos chamam curiosamente de "soviético", ele tem características próprias e é considerado um ícone do design nacional.

Com mais de 6 bilhões de unidades vendidas, esse é um dos grandes sucessos da empresa que leva o nome de seu criador, vendida em 2019, aos 107 anos, para a HIG Capital, sediada em Miami. Assim o copo americano se tornou americano. Tarde demais, agora os americanos são estadunidenses.

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