É tão óbvio que eu devia ter pensado antes, mas vamos dar o devido crédito ao Romulus Maya, que lembrou da história ao comentar os editoriais em que os três jornalões mudam repentinamente de posição e passam a criticar os abusos do STF: Elon Musk é o menino que grita que o rei está nu.
Muitas vozes gritavam antes, porém elas eram caladas pelos alfaiates ou desprezadas como murmúrio de gentinha (eles chamam de "extrema direita"), que não deve ser levado em conta pelas pessoas de valor. Mas um menino gritar no momento em que o rei deixa a proteção do palácio para andar pelo mundo é diferente.
Você não pode ameaçar, achincalhar, censurar e prender o mundo inteiro. E vai virar piada internacional se continuar fingindo que vê o que não existe ou não vê o que está evidente para qualquer pessoa minimamente honesta. Era necessário mudar, reconhecer a nudez do soberano.
Foi o que eles fizeram, não só nos editoriais. Suas reportagens e colunas assinadas oferecem inúmeros exemplos da súbita mudança. Para citar apenas um, a Folha de hoje substitui os "atos golpistas" de 8 de janeiro por "atos antidemocráticos". Fica melhor, evita que o apontem como um idiota que acredita em golpe de velhinhas com Bíblia.
Que ninguém imagine, no entanto, que essa conversão é sincera. Sua própria rapidez demonstra que eles sempre souberam que estavam mentindo e a "extrema direita" tinha razão. Eles não foram iludidos pelos alfaiates, são seus sócios e ainda tentarão, dentro do possível, vender o seu trabalho.
Você continuará vendo uma desculpa grosseira para retirar um condenado em três instâncias da cadeia, uma interpretação surreal de um regimento interno e uma manipulação sem precedentes de uma eleição. E eles continuarão falando da leveza do tecido, da precisão das costuras e da beleza das cores.
Por mais que outros meninos gritem nos próximos meses, nem tudo chegará ao exterior. E em tudo aquilo que não chegar o discurso continuará mais ou menos igual. Eles sabem que o palácio está repleto de servos que desistiram de pensar por si mesmos e estão ansiosos para concordar com seus amos.
Eles ainda querem censurar e criminalizar opiniões, afastar inimigos através de julgamentos farsescos e manipular eleições. Querem que estas passem a ser tão irrelevantes quanto as de países como Irã ou Venezuela, onde, vença quem vencer, o verdadeiro poder permanece nas mãos de uma pequena elite.
Eles são os verdadeiros golpistas, os defensores de uma ditadura abjeta e disforme. O que eles chamam de democracia é a nova roupagem com que tentam cobri-la, cuja beleza e riqueza não cansam de elogiar, mas que nenhuma pessoa intelectualmente honesta consegue ver.
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