sexta-feira, 22 de março de 2024

Nomes em fuga

Após três doses de vacina e com uma variante atenuada, minha segunda experiência com a covid foi um pouco mais incômoda que a da época inicial. Mas eu sabia que agora seria assim, que a variante ômicrom arranha por uns dias a garganta e vai embora, não estava alerta como quando falavam em cadáveres empilhados nas ruas.

Uma coisa não tem nada a ver com a outra? Concordo que não dá para medir com exatidão, mas tem, trata-se de uma variação do "efeito placebo", que é real e funciona em várias direções. As próprias vacinas talvez tenham sido mais úteis como placebo - ufa! estou protegido - do que como remédio.

Por outro lado, há "placebos do mal". As pessoas se recusavam a pegar algo nojento como a Gripe Suína, mas aceitaram se contaminar quando a rebatizaram com um tecnológico H1N1. A covid foi desde o início associada a belas imagens gráficas, nunca houve um vírus tão colorido e atraente. E nomes como ômicron são bem legais.

Bom, mas tudo isso é pra falar das fugas de presidiários que o Brasil está experimentando de uns tempos para cá. A culpa é do ministro, é claro, não poderia ser coincidência. Mas não de suas atitudes ou da falta delas, o problema é o nome: Lewandowski.

O bandido é um ser humano como nós, com seus receios e incertezas. Tempos atrás, uma quadrilha em fuga invadiu o sítio de um amigo. Não ameaçaram ninguém, só liquidaram com o estoque de cerveja enquanto se divertiam reencenando a morte do dono do carro que tentou persegui-los e davam um telefonema atrás do outro.

Não queriam se arriscar pelas ruas antes de obter uma informação que lhes parecia crucial: a qual delegado o caso havia sido entregue. Lá pelas tantas obtiveram a resposta: "É o Fonseca, ele é gente boa, vamo embora."

Agora, pense comigo. Pense como Querubim e Tatu, que tudo iniciaram em Mossoró. Quem cuidava da cadeia deles era um tal de Flávio Dino, um gordão debochado, meio mulato, que fala besteira, tira foto de calção coberto pelas pelancas caídas... Esse é gente boa, você sente que dá para manter um diálogo cabuloso com o simpatia.

Mas de repente as coisas mudam e entra lá um branquelão de cara fechada que lembra aqueles filmes de nazista ou de vampiro. E com um nome que ajuda. Pense como Querubim e Tatu. Lewandowski, Stradivarius, Auschwitz, George Washington é tudo igual, tudo distante, perigoso, difícil de dialogar e impossível de confiar.

Esse é o placebo das fugas. Uma vez que ela tenha sido administrado o cérebro faz o resto sozinho e vai descobrindo a câmera quebrada, a porta fechada com atraso e tudo o mais que sempre esteve ali, mas era como se não estivesse.

A incompetência do ministro e do presidengue escondedor de móveis também são importantes, mas o fundamental é mesmo o nome: Lewandowski. Entrega o ministério pra alguém chamado Manuelão ou Andrezinho da Noca que as fugas param.

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