"Estima-se que 56 milhões de pessoas indígenas tenham sido mortas em todo o continente americano" entre a chegada dos europeus e "o ano de 1600", diz a BBC chutando essas estatísticas como de hábito. Mas até aí tudo bem. É a frase seguinte que, inserida de graça, sem nenhuma necessidade, parece assustadora:
Os mortos foram tantos que o clima da Terra esfriou.
A Pequena Idade do Gelo começou por volta de 1300, mas foi após um intervalo relativamente quente, aí por 1500, que a temperatura diminuiu pra valer, particularmente entre 1645 e 1715. Então, se você desconsiderar a fase inicial, o início do frio coincide com o morticínio das "pessoas indígenas".
Evidentemente, coincidir não é causar, "com isso" não é sinônimo de "por causa disso". Mas o preocupante não é falta de lógica da autora da reportagem, é ela ter achado muito natural estabelecer a relação entre os dois fatos.
Ela é Zaria Gorvett, "premiada jornalista da BBC Future", "vegana desde antes disso ser moda", formada em ciências biológicas pela Universidade de Exeter com mestrado em microbiologia médica pela London School of Hygiene and Tropical Medicine. Embora pareça simpática na foto, ela não é ela, é legião.
A relação entre matar muitas pessoas e diminuir a temperatura do planeta não foi certamente criada pela Zaria, deve ser uma ideia que circula no meio em que ela vive. Que é o mesmo das Gretas e de toda aquela gente que passa os dias dizendo que nós precisamos... diminuir a temperatura do planeta.
O Fórum Econômico Mundial, que banca essa turminha toda, já recebeu palestrantes como o líder espiritual indiano Sadhguru, que sugeriu premiar as mulheres que decidem não ter filhos e acredita que a solução de nossos problemas passa por reduzir o número de almas encarnadas em corpos físicos.
No mesmo Fórum, a antropóloga e primatóloga Jane Goodall foi entusiasticamente aplaudida ao declarar que tudo se resolveria se a população mundial voltasse aos 500 milhões da época das caravelas. Um número também citado nas "recomendações" das tais Pedras Guias da Geórgia, obscuro monumento que não se sabe quem fez.
Se eliminar 56 milhões já esfria o globo, imagine 7 bilhões e meio. A ideia é terrível, mas, você sabe como é, se a temperatura continuar a subir (e a paranoia com isso também), alguém venderá o "temos que fazer alguma coisa". O que não significa necessariamente fuzilar multidões. Como lembra outro trechinho da Zaria, a maioria das pessoas indígenas não foi diretamente morta pelos europeus, mas...
... pelas doenças que eles trouxeram.
A reportagem citada pode ser lida aqui e trata das "ilhas" de terras negras, excelentes para a agricultura, em meio ao solo arenoso da Amazônia. Elas não são naturais, foram formadas há milênios pelos habitantes dos aglomerados populacionais que estão sendo recentemente descobertos por lá. Esse pessoal também teria introduzido a maioria das espécies de árvores existentes na região, nem a famosa floresta é natural.
Por fim, penso que a Zaria deveria ter explicado se matar os milhões de indígenas foi mesmo ruim ou, no fundo, foi bom. Afinal, se a temperatura não tivesse baixado preventivamente naquela época estaríamos torrando hoje, não é mesmo?
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