segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

O retorno de Ibrahim

Ao mesmo tempo em que parou de falar em Bolsonaro, o Cartel de Mídia baixou o tom geral. Você dá uma olhada nas suas manchetes e nos artigos de seus colunistas e quase tudo parece tranquilo como nos antigos jornais do interior, em que o pessoal tinha que catar assunto para encher meia dúzia de páginas.

Os temas que agora mais os preocupam são o BBB e a bunda da Yasmin, a índia lésbica que contesta a noção tradicional de monogamia e coisas do tipo. Do jeito que vai, daqui a pouco eles reeditam a coluna social que todo jornal interiorano mantinha, cada um com seu aspirante a Ibrahim Sued local.

Não é que eles não estejam tratando de assuntos mais sérios. Tratam, mas com leveza, de uma maneira meio distante, lateral. Na vacinação contra a dengue, por exemplo, a notícia é que, após um ano de inatividade, o governo federal vai definir a estratégia a ser utilizada para distribuir as 5 milhões de doses disputadas pelos estados.

Por que o número é limitado? Por que não compraram antes a vacina que já existia? Não deu tempo de "definir a estratégia" durante o ano passado inteiro? Nada disso é perguntado, os fatos são expostos como se fossem os pratos de um banquete ou as roupas usadas pelas socialites que dele participaram.

E os yanomami? A situação é cada vez pior, há mais desnutrição, mais mortes de crianças, mais de 300 deles simplesmente desapareceram na mata. No entanto, só quem fala dos coitados é o Zé Bonitinho do UOL, num artigo intitulado "Drama dos yanomami desafia gestão Lula a mostrar serviço".

Não é fofo? O drama é dos índios, lhes pertence se poderia dizer. E a "gestão" está desafiada a mostrar serviço, obviamente no futuro. E se não mostrar? Provavelmente continuará desafiada como agora, afinal, que diferença faz não resolver o problema em um ano ou em dois?

Não existe mais pressa, se der para resolver se resolve, caso contrário se vê depois. Se o vestido da socialite não arrasou, seu costureiro está desafiado a mostrar serviço no próximo. O importante é que o papo regado a uísque está ótimo e os criados já vão servir o jantar. Amanhã é outro dia. Ademã que o desgoverno vai em frente.


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