domingo, 24 de dezembro de 2023

História de Natal

Foi um mês antes, mas acabou se estendendo. Caio Benício viu o doido esfaqueando as crianças pequenas, desceu da moto e o parou a golpes de capacete. O primeiro-ministro o recebeu e o povo fez uma vaquinha para premiá-lo pelo ato heroico, arrecadando quase 2 milhões de reais (370 mil euros).

Nada mal para quem tinha um restaurante que pegou fogo e estava trabalhando de motoboy na Irlanda para se levantar. Podia ter acabado por aí, talvez com ele abrindo um novo estabelecimento e sendo feliz para sempre. Mas, como foi dito, a história se estendeu.

Sei disso porque uma menina de 5 aninhos foi ferida com gravidade e, dias depois, eu tentei saber o que havia acontecido com ela. Encontrei a notícia num jornal irlandês e descobri que não era só eu.

Caio, que no dia do evento continuou trabalhando normalmente, foi ao hospital num de seus horários de folga e acabou falando com os pais dela, que fizeram questão de recebê-lo e lhe permitiram vê-la através do vidro da UTI.

Disse que precisava fazer isso porque não conseguia dormir, atormentado pela ideia de que a garotinha poderia morrer por ele não ter passado pelo local poucos segundos antes. E ainda colocou todo o dinheiro da vaquinha à disposição da família, para pagar as custas médicas ou o que fosse necessário.

O que se pode dizer depois disso? PQP, Caio, você é bom demais! Você realmente merece se dar bem, até parece personagem de um daqueles filmes que costumam passar na TV nessa época do ano.

Quanto às cenas finais deste enredo, eu ontem fucei outra vez nos jornais. Caio continuará trabalhando em Dublin, mas, como mostra a foto do topo, agora está no Rio, onde descansa junto da esposa e do orgulhoso casal de filhos. A parte deles pode se encerrar com essa bela imagem.

Lá na ilha, quem também estava na UTI era a professora que protegeu as crianças com o corpo e levou várias facadas. Estava, pois se recuperou e foi transferida para o atendimento normal há alguns dias. Sua família festejará o Natal no hospital, ao redor da sua cama, e a enfermeira fingirá que não a viu tomar um dedinho de vinho.

A menininha continua no setor intensivo, mas só por garantia adicional, pois os médicos já marcaram sua transferência para a próxima semana. E é óbvio que é isso que irá acontecer e ela em breve estará brincando alegremente com os coleguinhas. Histórias de Natal só podem ter um final feliz.

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