sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Terra ancestral

Uma força militar organizada obrigando famílias que não são da etnia "certa" a deixarem suas casas e tudo pelo que trabalharam durante décadas, violências diversas contra quem reage, agressões, mortes. Não, não é no Oriente Médio. Isso está acontecendo agora no sul do Pará, no município de São Félix do Xingu.

Ali, 65 mil pessoas se distribuem em mais de 8 milhões de hectares, oito milhões de campos de futebol. Deveria sobrar espaço para todo mundo. Mas o governo brasileiro se empenha neste momento em expulsar os cerca de mil habitantes da Vila Renascer, que, ao longo de existências dedicadas basicamente à pecuária e à agricultura, construíram igreja, posto de gasolina e duzentas outras edificações residenciais e comerciais.

O problema é que a vila estaria dentro de uma tal Terra Indígena Apyrerewa, que, depois de várias idas e vindas pelos gabinetes em que foi inventada, acabou ficando com pouco mais de 700 mil hectares, 700 mil campos de futebol.

Em termos de densidade demográfica fica fácil calcular, pois a população indígena a ser beneficiada gira em torno de 700 indivíduos. Ou seja, ele vão destruir a Vila Renascer para dar mil campos de futebol para cada índio, do bebezinho ao ancião.

Não só os campos, é evidente, pois os indígenas modernos podem fazer suas dancinhas e seu teatrinho para turistas, mas não abrem mão de coisas como sinal de celular, cesta básica e assistência do SUS.

Aliás, quem disse, em 2020, que eles somavam 729 pessoas, foi justamente o Sesai, um departamento do SUS dedicado à saúde indígena. Antes disso, em levantamentos realizados pela Funai, eles eram 248 no final do milênio e passaram a crescer durante o governo petista, chegando a 470 em 2016.

Em apenas quatro anos eles foram de 470 para 729? Deve ser uma das mais altas taxas de crescimento populacional do mundo. Dá até para desconfiar que, como sustentam alguns maldosos, ONGs acumpliciadas com funcionários públicos inflam artificialmente as populações indígenas para lhes dar mais terras e benefícios.

E aí os incrédulos perguntam: Os índios, principalmente com a vida que levam hoje, precisam de tanta terra? Vale a pena jogar essas mil pessoas no mundo, a maior parte delas sem indenização alguma? Justifica-se tratá-las com violência e até matar algumas? O que afinal de contas o Brasil como um todo ganha com isso?

A última pergunta é fácil responder. A operação permitirá reverter o desmatamento da região, que acelerou-se durante o governo Bolsonaro. No total, segundo estimativa da Universidade de Maryland, cerca de 8% da cobertura arbórea do território foi destruída entre 2007 e 2021. Onde já se viu, manter apenas 92% da floresta?

Ops, mas o que é que a Universidade de Maryland tem com isso? Essa pergunta já é um pouco mais difícil. De fazer, não de responder. Mande um coraçãozinho com os dedos e diga não ao aquecimento global.


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