No fundo do poço da Globo havia um alçapão. Segundo o G1, o Fantástico do último domingo se dedicou a mostrar que Aécio Lucio Costa Pereira, condenado pelo STF a 17 anos de prisão, "já era um homem violento" com "10 boletins de ocorrência contra ele, registrados pelos vizinhos do condomínio em Diadema, quando era síndico".
Só uma ex-síndica denunciou o sucessor várias vezes, por injúria, calúnia, difamação e perturbação da tranquilidade. Segundo ela, dependendo da reclamação do morador, Aécio partia até para a agressão física. Outra vizinha o acusou de furto porque ele arrancou o celular de suas mãos e não o devolveu.
Vando Estrela, que o considerava um amigo no passado, foi tratado pelo síndico como "linda bicha com X porque todo comunista é analfabeto". E o malvadão ainda teria demonstrado "intolerância religiosa" (sem exemplos) e "comportamento machista", chamando mulheres de "bruxa velha" ou "laranja podre".
Gente com esse perfil até pode pegar 17 anos em países que punem crimes graves com prisão perpétua ou morte. No nosso, é um absurdo. No caso do Aécio, que nem deveria ser julgado pelo STF, uma pena por baderna, como a proposta pelos dois únicos ministros que o julgaram tecnicamente, seria mais do que suficiente.
Fantástico de verdade
A uma advogada que chorou porque as sentenças já estariam decididas, um ministro acusou de ter perdido a oportunidade de demonstrar a inocência de seu cliente. Mas não é o acusador quem deveria provar que os que entraram no palácio aberto pelo GSI petista faziam parte de um grupo que tramava a derrubada violenta do governo?
Onde estavam as armas para isso e as pessoas que as manejariam? Segundo a imprensa diz nos cantinhos, meio envergonhada, a prova de que estas existiam está em mensagens de WhatsApp em que Aécio dizia para a esposa algo como "tem que quebrar tudo que é para o Exército ser obrigado a intervir".
Isso sim é fantástico, pois a mensagem indica justamente o contrário. Se os baderneiros julgavam ter que fazer algo para constranger os militares a agir é porque não havia nada combinado entre eles.
Forçando a situação, até se poderia dizer que a mensagem deixa em aberto a possibilidade de um vínculo prévio. Mas neste caso seria necessário demonstrá-lo. Onde estão as provas de que Aécio estava combinado com o Exército? Ou com alguns militares? Ou com algum grupo armado? Não existem, ele não estava.
A única ligação entre virar cadeiras e uma intervenção violenta contra o governo estava na cabeça do sujeito. Existe até mesmo uma previsão legal para esse tipo de situação e o Deltan Dallagnol a menciona em seu último artigo na Gazeta do Povo, mas eu vou me limitar a um exemplo paralelo:
O João agride o chinês da pastelaria para dar início a um movimento em que, conforme imagina, outros ocidentais pegarão em armas e varrerão os chineses da face da terra. Ele será acusado de agressão, no máximo de racismo (sinofobia?), jamais de associação criminosa e muito menos de tentativa de genocídio.
Pois é, mas tente explicar isso a alguém com o nível mental de um lulopetista típico. Só tome cuidado para não ficar nervoso e acabar chamando o sujeito de "bicha analfabeta com X". Ou de "bruxa velha", se for uma mulher.
Nenhum comentário:
Postar um comentário