sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Lá e aqui

Nos últimos tempos, tanto na Foice como no Ex-tadão, um tal Ross Douthat tem feito o papel de americano que escreve sobre seu país. Seu texto em geral é meio chatinho, mas não deixa de ser uma visão de quem está por lá e torce para que o "populista" Trump não consiga retornar ao poder.

Nenhuma surpresa, tratando-se de alguém que também escreve no New York Times. Mas os "antipopulistas" de lá são menos desonestos que os daqui e, em artigo publicado no Ex-tadão de ontem, Ross analisa os motivos da impopularidade do Biden, que deve concorrer à reeleição contra o próprio Trump.

Ele começa dizendo que a popularidade do Joe baixou com a retirada catastrófica do Afeganistão, mas depois melhorou e deveria continuar aumentando porque não há guerras (diretas, Ucrânia não conta) e a economia vai bem. Mas existem duas coisas que a rebaixam, uma delas potencializada pela outra.

Idade

Três anos mais velho que o turista brasileiro, Biden completará 81 anos em novembro e terminaria um segundo mandato com 86. Mesmo para o mundo moderno, repleto de velhinhos ativos, trata-se de uma idade em que muito mecanismo humano atinge o prazo de validade ou passa a travar de maneira irreversível.

O presidente tem cometido "gafes" que parecem indicar um problema mais sério, não se pode tratar como improvável a sua substituição pela vice Kamala Harris (Ross a trata como certa na chapa, não sei se manter o vice é um hábito arraigado entre os americanos ou uma decisão já tomada pelo partido).

Ocorre que Kamala é uma deputada que nunca antes havia ocupado um cargo executivo e, quatro anos e várias chances de mostrar serviço depois, continua a não inspirar confiança em ninguém. Uma pessoa acostumada a falar muito e fazer pouco. E, pior, vista como uma progressista, uma lacradora.

Lacração

É exatamente assim que o termo utilizado pelo Ross para definir o segundo problema foi traduzido pelo Ex-tadão. Será esse um novo padrão do jornal agora que ele está entrando na segunda fase do plano "vamos tirar Bolsonaro para depois nos apresentarmos de novo como inimigos ao estilo tucano do PT"?

Por aqui eles perceberam o cheiro de queimado e se recolheram. O escandaloso Wyllys foi chutado do governo, as fake news do Janones diminuíram, os defensores das crianças trans estão quietos, a luta pelo aborto livre foi jogada para as páginas internas do ministério e para os parças do stf.

Por lá também, o Partido Democrata deixou de apoiar abertamente os louquinhos que derrubam estátua e pedem o fim da polícia. Apesar de algumas decisões favoráveis aos interesses progressistas aqui e ali, Biden segurou a onda. Mas Ross é obrigado a admitir que isso não adiantou.

O partido foi tão longe que seu recuo não convence ninguém e não impede que continue a perde apoios em setores que dominava, como os negros e os imigrantes latinos. A maioria entre estes quer viver honestamente e cuidar de suas famílias em paz, não servir de bucha de canhão para pautas identitárias de militantes profissionais.

A economia sempre será importante, obviamente. Mas está longe de ser o fator decisivo em países onde há uma guerra cultural. Como nos EUA. Como aqui.

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