terça-feira, 8 de agosto de 2023

Barbie e seu automóvel

Barbie, descobri esses dias, foi inspirada numa boneca europeia criada para fantasias de cavalheiros. Nada pesado, um teatrinho bobo que podia ser exposto em vitrines de rua. Ruth Handler, fundadora da Mattel, estava passando pela rua, viu a vitrine e teve o estalo: as meninas gostariam de brincar de jovens adultas modernas.

Elas já brincavam, mas apenas de mães das bonecas a quem davam papinha e colocavam para nanar. Agora elas seriam a boneca, se projetariam nela, andariam pelo mundo, vestiriam roupas da moda, teriam um namorado, preencheriam o espaço entre a infância e a responsabilidade de ter família e filhos em sua imaginação.

Um dos maiores varejistas dos EUA achou que aquilo era uma imbecilidade e se recusou a comprar ou expor o novo produto. Mas a Ruth foi em frente e o resto é história. O sucesso do filme atual - que eu não vi, mas acho que deve ser até divertido - é, antes de tudo, uma vitória dela.

Dela e de muito mais gente. A direção atual da Mattel, os responsáveis pela produção, a diretora, o elenco, todos aqueles que a imprensa, neste caso com justiça, apresenta como vencedores dessa empreitada. Tem até uma brasileira nessa lista, que o pessoal esquece, mas nós fazemos questão de lembrar.

Parabéns, senadora Damares!

Contra, a favor ou muito a favor, todos os que se referem ao filme falam com a maior naturalidade do mundo na "onda rosa". Ninguém contesta esse aspecto, nem mesmo os lacradores e lacradoras hipócritas que tanto o criticaram no passado recente.

Caetano, que deve saber do que as meninas que brincam de boneca gostam, não fez musiquinha de carnaval. Daniela Mercury, que acabou revelando que gosta de brincar com as meninas, nos poupou de seus berros e esgares. Seu silêncio é uma confissão: a Barbie é rosa, meninas vestem rosa. Para os meninos sobra o azul.

Já existia

Na verdade, a ideia da Ruth já era aplicada aos meninos. Falcon e outros bonecos vieram depois da Barbie, mas, embora sem força suficiente para gerar um grau similar de identificação, soldadinhos de plástico, ou índios e cowboys do Velho Oeste, já existiam antes. Soldadinhos de chumbo são ainda mais antigos.

Acho que a grande diferença é que os bonecos de meninos são mais fantasiosos. No caso masculino não há nenhum de advogado, médico ou engenheiro. E mesmo que o cara cresça e se torne soldado, bombeiro ou alguma outra coisa de que brincou na infância, dificilmente passará pelas aventuras que imaginou.

Para as meninas é o contrário. Devem ter criado uma Barbie espiã ou algo do tipo, mas a maioria delas tem profissões normais ou está passeando no shopping. A possibilidade da brincadeira um dia virar realidade é tão grande quando a que já existia com as bonecas anteriores, de ser mãe e cuidar do bebê.

Na média, as mulheres gostam mais e se dedicam mais cedo aos jogos sociais. A Barbie pegou essa tendência no nascedouro e foi aumentando suas opções.

E o automóvel?

Escreva tudo o que você consegue pensar sobre um carro, disse o professor. Recolhidos os papéis, ele pegou primeiro os nossos: rodas, volante, freio, acelerador, pistão... com o pessoal contando para saber quem tinha vencido a disputa e lembrado de mais itens. Aí pegou os das meninas: viagem, passeio, praia...

Rosa para as meninas, azul para os meninos.


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