No artigo reproduzido ontem, Guzzo ressalta a "profundidade de uma poça d'água, das rasas" do discurso do iluministro que, numa "canetada oral", limitou-se a dizer que seu "ativismo" não é ativismo e não apresentou "nada que possa ser qualificado como argumento". Em resumo, escreve o jornalista:
Foi, mais uma vez, o costumeiro angu mental que o STF consegue produzir, com muito palavrório e poucas ideias, quando quer dar instruções ao povo brasileiro. Ao fim, sobrou unicamente um atestado do subdesenvolvimento generalizado da atividade intelectual no Brasil deste 2023.
Sim, as explicações que essa gente inventa conseguem ser mais ofensivas que seus atos. Pior que a arbitrariedade é tentar justificá-la, por exemplo, com o fato do STF usar internet e a aplicação de um parágrafo do regimento interno a algo alheio ao artigo ao qual ele se subordina. Os caras prendem um e ofendem a inteligência de todos.
Mas onde estão as reações ao absurdo? Em tuítes soltos por aí, em articulistas raros como o aqui citado, não mais. A imensa maioria nada percebe. Jornais e TVs noticiam essas coisas sem vergonha nenhuma, porque também nada notam ou nada lhes acontecerá. Há um "subdesenvolvimento generalizado da atividade intelectual".
Ainda na semana passada alguns tentavam "argumentar" que uma frase não significava o que o arranjo de suas palavras mostrava, mas o que gostariam que mostrasse. O "argumento" era que outros tinham a mesma opinião. E era algo primário, se fosse matemática seria como discutir quanto é dois mais dois.
E os discursos que dominam a sociedade se baseiam na garantia de que boa parte do povo é assim. Você chamaria quem teme a falta de segurança de um carro lançado às pressas de anti-automóvel? Mas o consórcio lançou o anti-vacina e os patetas a quem ele se dirige até hoje repetem a expressão.
Tão grande é a sua segurança que eles chegam a chamar de "negacionista" das mudanças climáticas quem diz exatamente o contrário, que elas sempre existiram e existirão. O verdadeiro negacionista é quem acha que o mundo tem um clima fixo, que só pode ser alterado pela derrubada de árvores da Amazônia ou outra ação humana.
Claro, claro, os dois últimos exemplos não são uma exclusividade brasileira, na verdade foram importados juntamente com as mulheres que têm pênis e as pessoas que menstruam. Mas isso é como o café e o futebol, que vieram de fora e acabaram encontrando aqui a sua pátria, o lugar ideal para vicejar.
Eu não conheço o mundo inteiro, mas, só para pegar um caso relativamente próximo, creio, pelo pouco que sei do sistema de ensino de lá, que um português médio não teria coragem de contestar o sentido de uma frase simples como a que nos referimos acima. E reconheceria de pronto o discurso de um embusteiro como o iluministro.
Confiante que o brasileiro típico não o fará, o sujeito se aproveita da pobreza intelectual dominante para manter o cachimbo na boca torta. Mas há uma minoria que percebe e o cara é vaidoso. Será que não se importa? Ou será que ele realmente acredita nos "raciocínios" miseráveis que elabora e acha que está abafando?
Sei lá. Seja qual for a opção certa, a pobreza é geral. Só uma grande revolução para acabar com tudo isso.
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