quinta-feira, 13 de julho de 2023

Guilhotina

Falei do iluministro e usei a imagem do Luís XV. Voltando a falar no dia seguinte, achei lógico usar a do XVI. E a seguir peguei a da população da época para tratar da pobreza intelectual que o sujeito tanto encarna quanto patrocina. Ia largar o tema de mão, mas aí, na véspera de 14 de julho, me senti na obrigação de completar a série.

Foi o médico e parlamentar Joseph-Ignace Guillotin quem acabou dando nome ao grande símbolo da Revolução. Mas ele não criou o aparelho, apenas sugeriu que se criasse uma nova versão dele para que o condenado à morte não sofresse na forca ou com uma machadada mal aplicada.

A própria lâmina oblíqua, que é mais eficiente que a horizontal dos modelos anteriores e realmente caracteriza a inovação revolucionária, foi adotada por sugestão de um colega do Zé Inácio, o doutor Louis, célebre cirurgião daquele tempo.

Não que Guillotin não fosse famoso. Para dar uma ideia, antes da baderna ele participou, com Benjamin Franklin e outros, de uma comissão encarregada pelo rei de investigar o magnetismo animal do Mesmer. Muito depois, já sob Napoleão, atuou como ardoroso defensor da vacinação em massa contra a varíola.

Sim, ele não era negacionista, lutou para salvar vidas como diriam hoje. E sim, ele não foi guilhotinado durante o Terror. Robespierre até que tentou, mas caiu antes, quem acabou dançando foi outro médico com o mesmo sobrenome. O nosso Guillotin se foi aos 75 anos, de causas naturais.

Voltando à guilhotina, consta que ingleses e escoceses já haviam aperfeiçoado um dispositivo de cortar cabeças que os alemães usavam na Idade Média. Mas a referência mais antiga a um instrumento similar vem da Roma de 350 AC, época em que Tito Mânlio foi três vezes cônsul e duas ditador.

Pense num cara durão e você ainda não chegou nem perto do Tito Mânlio. Entre seus muitos feitos está ter enfrentado um gaulês enorme em combate singular. Tendo vencido o golias e arrancado seu torque (colar), ele passou a usá-lo no pescoço e no próprio nome de família, tornando-se Tito Mânlio Imperioso Torquato.

Mas ele era mais conhecido pela férrea disciplina. Durante a Segunda Guerra Latina, o inimigo ficou provocando os romanos que tinham ordem de manter a formação. Lá pelas tantas o filho do Tito Mânlio não resistiu e avançou para matar um latinozinho ou dois. E o pai não vacilou: condenou o guri à morte.

Foi aí que ele decidiu tornar o exemplo ainda mais público e inventou - ou alguém o fez por ele, talvez seu médico - um aparelho em que o condenado ficava com a cabeça presa e levava um golpe no pescoço. Mas o Guillotin é que levou a fama. Também, convenhamos, titotina parece nome de remédio, não tem aquele som cortante.

Iluministro

Além de se negar a investigá-lo por falar mal das santas urnas, o iluministro resolveu deixar bem claro que a questão é quem fala e acompanhou o Gordodino a um congresso da UNE, onde, em sintonia com sua admissão de que seu tribunal é um órgão político, declarou que "nós vencemos o bolsonarismo" e "temos um país a construir".

Imagine você, que ele chama abertamente de "mané", o escândalo que a imprença (sic) faria se alguém dissesse o mesmo sobre seu presidiário favorito e tente encontrar a notícia sobre o iluministro nos cantinhos em que a esconderam. Duvido que você depois não pense no Tito Mânlio. Ou no Robespierre.


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