quarta-feira, 26 de julho de 2023

Reimaginador e convencedor

A violação maciça de direitos humanos, a indicar um potencial estado de coisas inconstitucional, impele o Poder Judiciário a intervir, a mediar e a promover esforços na reimaginação de uma estrutura de enfrentamento para as mazelas que, lastimavelmente, caracterizam uma determinada conjuntura, tal qual aquela que se apresenta.

O estilo é inconfundível, trata-se de mais uma ordem do rei-maginador Xandão I, que, ao ver algo que "indicava um potencial" sentiu-se "impelido a intervir", determinando que o governo federal crie um plano nacional em x dias e os estaduais e municipais passem a seguir desde já as normas que decidiu preventiva e bondosamente criar.

O assunto da vez são os moradores de rua e as regras que ele inventou estão aí pela imprensa. Esquecendo o autoritarismo, boa parte delas é razoável, mas duvido que as prefeituras já não tenham a preocupação de manter os bens e até os animais de quem está nessa difícil situação. O problema é conseguir.

E provavelmente agora ficará ainda mais difícil, pois uma das formas de tirar o sujeito da rua é... tirar o sujeito da rua. E o rei-maginador também proibiu que alguém o remova contra a vontade. Se o camarada decidir acampar na sua calçada e você reclamar é capaz da polícia lhe prender por golpismo, genocídio ou outro crime do tipo.

Já que eles gostam tanto dos lacaios da ditadura cubana, deveriam copiar uma das poucas coisas que esta tem de bom e não permitir que ninguém viva nas ruas. Seria até mais simples fiscalizar as condições de meia dúzia de abrigos. Porém, para que simplificar se é possível aumentar o problema, não é mesmo?

Novos cargos

Mas tudo contém novas oportunidades. Creio que as novas regras abrem a possibilidade de se criar o cargo de "convencedor", um funcionário público que passará os dias conversando com os moradores de rua e tentando gentilmente convencê-los a viver em outro lugar. Aliás, a profissão já existe, só que voltada para outros públicos.

Houve uma época em que eu ia muito a Natal, que, por ter o aeroporto brasileiro mais próximo da Europa, recebia (deve receber ainda) muitos voos lotados de turistas interessados apenas em sexo. Com mulheres. Dizem que tem uma praia do interior cheia de repúblicas com rapazes alegres, mas na capital era com moças mesmo.

Onde há clientes, há quem ofereça o serviço. Para atender à grande demanda, o pessoal acabava contratando as novinhas. E o juizado de menores, depois de verificar que não adiantava dar batidas nas casas e tentar reprimir a coisa na marra, decidiu atuar através dos tais convencedores.

Tinha um garoto que trabalhava conosco e fazia esses bicos duas noites por semana. Sua equipe se dirigia a algum local onde se desenvolvia a atividade, ele identificava as menores e ficava lá, conversando com a menina de 16 anos em trajes íntimos ou algo similar, tentando convencê-la a deixar aquela vida de perdição.

A diferença é mais ou menos a que existe entre você pagar para bater bola numa quadra vagabunda e receber dez milhões por mês para jogar no Barcelona. Mas, basicamente, é a mesma profissão.

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